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ta é ilegal. Jamais vão admitir que suas práticas gerenciais são marcadas<br />

pelo racismo. Então falam em valorização da diversidade. É a maneira<br />

que encontraram de se colocar neste terreno a partir de uma postura<br />

positiva”. E arrematou: “Sabe o que eu penso de tudo isso? Acredito que<br />

o fato de a Febraban declarar que a diversidade é importante tem um<br />

efeito político monumental. A partir daí novas conquistas podem ser<br />

feitas, nesse jogo de tensões”.<br />

Suas colocações parecem dar razão à militante sindical sobre a<br />

liderança empresarial do segmento bancário no conflito de narrativas<br />

descrito acima. No entanto, é possível recorrer a uma terceira perspectiva.<br />

Daqui de onde vejo as coisas, mais importante do que desvendar<br />

a verdade é seguir os passos da controvérsia. Observar atentamente os<br />

argumentos em disputa nos permite perceber como determinados discursos<br />

são reciclados em novas formulações. A agente da cooperação<br />

internacional entrevistada oferece pistas interessantes a esta trilha interpretativa.<br />

Ela argumenta que, como as empresas não podem reconhecer<br />

que suas práticas gerenciais são ilegais porque marcadas pelo<br />

racismo, formulam a ideia da valorização da diversidade. Seria uma maneira<br />

de se colocar nesse terreno de forma positiva. Indo um pouco mais<br />

a fundo na pista fornecida por ela, diria que a maneira de as empresas<br />

se colocarem na arena de disputas em torno da questão racial comporta<br />

uma operação discursiva de tradução, que elas realizam justamente por<br />

serem interpeladas nos debates travados no espaço público.<br />

TRADUÇÃO<br />

No livro O novo espírito do capitalismo, os sociólogos Luc Boltanski<br />

e Eve Chiapello (1999) argumentam que o capitalismo assimila as críticas<br />

que lhe são feitas, sem colocar em perigo sua lógica de acumulação.<br />

Segundo eles, a crítica é na verdade a própria força motriz da evolução<br />

do capitalismo, isto porque esse sistema revelou-se capaz de formular,<br />

em diferentes contextos, esquemas de justificação que, ao integrar certas<br />

críticas e responder a certas reivindicações, garantem a sua legitimidade.<br />

A antropóloga Lívia Barbosa (2002) desenvolve uma reflexão que<br />

segue a mesma linha de raciocínio. Para ela, emergiu no mundo globalizado<br />

uma nova cultura de negócios, entendida como uma série de fluxos<br />

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