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Índia, tendo passado pelo Irã e o Afeganistão. O cravo chegou à Índia<br />

através das Ilhas Molucas, hoje parte da Indonésia. Até mesmo o coentro<br />

é mais nativo do sul da Europa e no norte da África e sudeste da<br />

Ásia do que da Índia. A canela também foi, provavelmente, importada<br />

da China. Só a pimenta em grãos tem origem, aparentemente, no sul<br />

da Índia e no Sri Lanka. Outra ironia é que garam masala é utilizado<br />

muito mais no norte do que no sul da Índia.<br />

Esse exemplo histórico-culinário mostra que o mundo é, e sempre<br />

foi, intercultural, e que todas as culturas são, definitivamente, híbridas.<br />

O que pode parecer uma essência cultural simples é, invariavelmente,<br />

um encontro muito mais complexo de fatos, relações, lugares<br />

e discursos. Isso significa, também, que temos que entender a ideia<br />

de autenticidade cultural como algo muito mais problemático. Já há<br />

tempos, os estudiosos da comunicação e cultura disputam a questão e,<br />

ao fazê-lo, frequentemente resgatam ideias de teóricos pós-coloniais.<br />

Marwain Krady (2005), por exemplo, explorou exaustivamente as ideias<br />

de hibridicidade de Homi Bahbha, chegando até a chamar de hibridicidade<br />

a lógica cultural da globalização em si. Existem, não obstante,<br />

muitas razões para crer que a hibridicidade não é apenas emblemática<br />

de uma cultura global caótica, mas também que a hibridicidade profunda<br />

é uma especificidade da própria cultura. E, conforme o exemplo<br />

acima demonstra, somente a análise histórica pode relevar a natureza<br />

híbrida de todas as culturas: nesse sentido, toda cultura é a história de<br />

encontros interculturais.<br />

Se quisermos reconfigurar o conceito de cultura de forma a ressaltar<br />

a hibridicidade, poderíamos ser levados a depreender que uma cultura<br />

autêntica ou original não existe. Mas essa é uma postura insustentável,<br />

tanto do ponto de vista moral quanto do político, no contexto dos<br />

movimentos e dos povos indígenas e da violenta história colonial que<br />

culminou no distanciamento das pessoas do seu lugar, e da destruição<br />

de culturas inteiras com base em argumentos etnocêntricos e econômicos<br />

(Zinn, 1980). Do ponto de vista da hibridicidade profunda, a própria<br />

autenticidade é mais compreendida não como uma propriedade imanente,<br />

mas como uma relação, uma ligação particular entre as pessoas,<br />

local e ambiente, em lugar de algo original em si mesmo. Os maoris<br />

em Aotearoa, na Nova Zelândia, por exemplo, afirmam a exclusividade<br />

da sua indigenicidade não com base no fator de sempre terem existido,<br />

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