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CRISE DE CONSCIÊNCIA - PORTUGUÊS

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Momento da Decisão<br />

eram estranhamente comparáveis ao que tive quando fazia as viagens à<br />

República Dominicana, durante o regime do ditador Trujillo. Em Porto<br />

Rico, meu ponto de partida, era tudo tão livre e à vontade; as pessoas<br />

na rua ou nos transportes públicos conversavam sem nenhum<br />

sentimento de restrição. Mas tão logo o avião em que eu ia, aterrissava<br />

no aeroporto do que se chamava então Ciudad Trujillo (agora São<br />

Domingos), a mudança era quase palpável. As pessoas eram tão<br />

cautelosas quanto ao que diziam que, nos transportes públicos, as<br />

conversas eram mínimas, pois todos estavam temerosos de que<br />

qualquer observação viesse a ser entendida como algo desfavorável em<br />

relação ao ditador e fosse comunicada pelo sistema de espionagem que<br />

proliferava durante esse regime. As conversas e o intercâmbio de<br />

idéias, que eram considerados completamente normais em Porto Rico,<br />

eram práticas perigosas na República Dominicana, capazes de trazer<br />

sobre alguém o rótulo de inimigo do estado. Em certo país, um homem<br />

podia expressar uma opinião diferente daquela da maioria e não sentir<br />

preocupação alguma de vir mais tarde a saber que foi citado por<br />

alguém. Em outro, um homem que expressasse qualquer pensamento<br />

que não se conformasse com a ideologia existente achar-se-ia depois<br />

recriminando a si mesmo, sentindo-se como se tivesse cometido algum<br />

erro, algo de que devia sentir-se culpado, e com o pensamento de que<br />

ser citado por alguém fosse uma coisa agourenta. Neste último caso, a<br />

questão não era se o que alguém havia dito era verdade; não era se sua<br />

declaração tinha motivos honestos e era moralmente correta. A questão<br />

era: como seria entendida por aqueles no poder?<br />

Qualquer sensação deste último tipo que eu tivera na sede antes da<br />

primavera de 1980 fora apenas passageira, momentânea. Agora ela me<br />

rodeava, parecia sobrepujante. A visão adotada pelos que exerciam a<br />

autoridade governante tornou-se óbvia pelo relato que me foi fornecido<br />

pela Comissão do Presidente e pelas observações que eles e os homens<br />

do Departamento de Serviço tinham feito nas fitas. Pela atmosfera<br />

altamente emocional e o clima de suspeita que haviam se<br />

desenvolvido, era difícil imaginar que o que eu ou os outros tinham<br />

dito pudesse ser visto de alguma forma, diferente da maneira áspera<br />

em que estes homens a haviam expressado. Ter em mente que aquilo<br />

que podia ser condenado como heresia do ponto de vista da<br />

organização, podia, do ponto de vista da Palavra de Deus, ser correto,<br />

próprio e bom, era difícil, particularmente depois de uma vida de<br />

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