06.04.2015 Views

Tese 8 - Neip

Tese 8 - Neip

Tese 8 - Neip

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Agora que o quadro das representações acadêmicas e midiáticas já foi configurado é<br />

pertinente fazer algumas pontuações conceituais sobre a cultura de consumo e sobre a<br />

metodologia interpretativa que caracteriza a análise do projeto:<br />

2.4 - Consumir para viver, viver para consumir!<br />

Estamos todos imersos em culturas, e contemporaneamente, a cultura de consumo<br />

não mais projeta um ideal de felicidade como objetivo futuro, mas como um pacote de<br />

desejos que possam ser satisfeitos no presente - independentemente e até mesmo em<br />

função dos desequilíbrios econômicos de um país como o Brasil. O adiamento da<br />

satisfação individual em prol da segurança coletiva, característico da cultura de<br />

produção, pode ser interpretado como “o investimento acima do lucro, o trabalho acima<br />

do consumo” (Bauman:2001,181), num movimento diametralmente oposto ao da<br />

cultura do consumo, que objetiva exatamente abolir o adiamento da satisfação. Uma<br />

questão que pode ser formulada como uma crítica a essa perspectiva é que se a<br />

satisfação não é mais procrastinada, ela também não pode ser totalmente realizada, pois<br />

assim acarretaria o risco de extinguir o desejo por satisfação. A solução é cultivar<br />

satisfações ao alcance do presente, satisfações parciais ou mesmo insatisfatórias, que<br />

deixem margem operacional para, potencialmente, poderem ser satisfeitas depois. O<br />

desejo por satisfação assim é que passa a ser procrastinado em lugar da própria<br />

satisfação.<br />

“A sociedade dominada pela estética do consumo precisa portanto, de um<br />

tipo muito especial de satisfação – semelhante ao pharmakon de Derrida,<br />

essa droga curativa que é ao mesmo tempo um veneno, ou melhor, uma<br />

droga que deve ser dosada cuidadosamente, nunca numa dosagem completa,<br />

que mata” (BAUMAN:2001,183).<br />

Nessa modelo cultural o phármakon – que por enquanto, pode ser interpretado<br />

simplesmente como droga - tanto pode levar à satisfação quanto pode inviabilizá-la,<br />

mas a demanda por “mais uma dose” não chega a desconfigurar os controles sociais<br />

vigentes:<br />

“A cultura de consumo não representa nem um lapso do controle, nem a<br />

instituição de controles mais rígidos; mas antes a corroboração dos<br />

controles por uma estrutura gerativa subjacente flexível, capaz de lidar ao<br />

mesmo tempo com o controle formal e o descontrole, bem como facilitar<br />

uma troca de marchas confortável entre ambos.” (FEATHERSTONE:<br />

1995,48).<br />

108

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!