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Tese 8 - Neip

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Enfatizando a perspectiva mercadológica, à exceção de um único interlocutor –<br />

justamente um que atualmente só consome sua substância como “o remédio” -, todos os<br />

outros participantes da pesquisa acreditam que a política proibicionista acaba sendo o<br />

veneno que agrega violência ao consumo. Como apontam alguns interlocutores<br />

estudantes de medicina, em acordo com a política proibicionista há remédios que<br />

comercializados licitamente não agregam violência física ao consumo, mas podem<br />

sedimentar o processo desse consumo como uma relação muito mais de poder do que de<br />

saúde entre os consumidores que confiam no sistema especialista representado pelos<br />

médicos, e os profissionais que representam tal sistema.<br />

Buda - Há um consenso de que antidepressivo e ansiolíticos não são drogas, são<br />

remédios. Receitar um destes hoje é normal, porque você sabe que muitos médicos<br />

trabalham juntos com os laboratórios. Nos EUA se um médico não adota os consensos<br />

da indústria farmacêutica (consenso para prescrever medicamentos em praticamente<br />

toda consulta), pode ser processado pelos pacientes que vão ali pra receber alguma<br />

prescrição e não para ouvir conversa. Querem fazer o mesmo por aqui.<br />

Se os médicos passarem a ser processados por não prescrever, não apenas as relações<br />

de poder estarão invertidas se comparadas à década de 1920 quando os doutores<br />

estadunidenses corriam o risco de serem processados por prescrever, como também se<br />

entenderá um dos motivos que levam muitos estudantes de medicina à depressão nos<br />

dias de hoje. Já foi mencionado que midiaticamente alguns sistemas especialistas em<br />

saúde representam a depressão como a enfermidade da contemporaneidade, (Whitfield:<br />

2005, 127). No Brasil, onde a depressão ‘atinge” 17 milhões de pessoas, cerca de 10%<br />

a 12% da população, entre 2003 e 2007 houve, como já indicado na nota 123, um<br />

aumento de 40% nas vendas de antidepressivos (FSP:12/11/09), gerando uma fatura em<br />

torno de US$ 320 milhões anuais. O crescimento desde mercado é tão distinto que o<br />

laboratório Eli Lilly que perdeu a hegemonia do setor 222 que liderava com o Prozac 223 ,<br />

preparou uma estratégia de divulgação do Cymbalta, - o phármakon de ponta da nova<br />

geração de antidepressivos - entre médicos de diversas áreas: “Nossos representantes<br />

visitarão profissionais de todas as especialidades que hoje também receitam<br />

222 - com a quebra da patente, 26 versões genéricas ou similares ao Prozac (fluoxetina) foram lançadas no<br />

território nacional desde 2001.<br />

223 - o Prozac teve uma queda nas vendas, passando o faturamento de 2,6 bilhões em 2000, para 250<br />

milhões em 2009 e especificamente no Brasil, de 330 mil caixas para 100 mil (www.antidrogas.com.br).<br />

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