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Tese 8 - Neip

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5.3 - A distinção como mecanismo redutor de riscos<br />

É pertinente mais uma vez ressaltar que o objetivo das minhas pesquisas de<br />

mestrado e de doutorado 210 é investigar como o acadêmico, professor ou estudante<br />

consumidor de drogas, interage com as representações sociais dominantes e os controles<br />

sociais do processo civilizador, e se esse consumidor em suas práticas sinaliza outro(s)<br />

modo(s) de representação e de controles sociais que contemple(m) o consumo de<br />

drogas. Nessa perspectiva, interpretando sua própria distinção acadêmica como um<br />

mecanismo de controle informal, há professores que ousam disponibilizar da imagem de<br />

docente para se proteger contra o estigma de ser usuário:<br />

Hermes - Eu consumo solitariamente, sem confusão, sou professor, isso aí<br />

cria toda uma blindagem a esse consumo. Em ambiente de trabalho tem<br />

vários professores que não consomem, colegas de trabalho que sabem que<br />

eu consumo. Há um diálogo sobre drogas e outros assuntos mais polêmicos<br />

pela própria maturidade intelectual, é um espaço que dá pra ter conversa.<br />

No senso comum um professor universitário já usufrui de status, e você<br />

associa isso, no meu caso a um consumo chamado discreto, porque eu<br />

consumo sozinho ou com alguns amigos, nunca é em nenhum momento<br />

orgiástico, tipo altos sons, (risos). A gente ouve uma música, num volume<br />

baixo, num caráter social discreto. No meu caso funciona porque todo<br />

mundo sabe, o porteiro sabe, o síndico sabe. (VALENÇA:2005,124)<br />

O “todo mundo sabe” se traduz na segurança que Hermes acredita ter conquistado em<br />

função do status de professor, status que facilita a tolerância ao seu consumo. Também é<br />

passível de atenção o seu enfoque no consumo solitário ou com poucos pares, não mais<br />

prescindindo da antes inevitável roda de fumo como um mecanismo de defesa para<br />

favorecer certo modelo de segurança. Na outra mão, foi possível encontrar quem tenha<br />

se sentido incomodado por não conseguir usar a posição e o status de professor com<br />

vistas à ressignificar a posição estigmatizada de usuário:<br />

Cibele - Alguns professores da universidade são meio caretas. Já ouvi<br />

coisas bem caretas de uma galera que eu fico olhando assim e eu não<br />

acredito. Professores de antropologia dizendo: “quem fuma não pensa nada<br />

de produtivo”. Eu fiquei ouvindo, mas esse comentário me incomoda e acho<br />

que incomoda outras pessoas. Na hora não tive coragem de colocar meu<br />

ponto de vista. (VALENÇA:2005,125)<br />

210 - ambas as pesquisas seguem o mesmo modelo teóricometodológico.<br />

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