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Tese 8 - Neip

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comunitário de igreja ou de partido que restaria como modelo aos jovens que não<br />

tivessem por objetivo “um encontro” com um estudante arquertípico. Em relação aos<br />

laços dessa fraternidade, e mesmo enquanto esta se configura e se estabelece como<br />

comunidade de estudantes arquetípica, um ou outro professor talvez possa eventualmente<br />

representar uma figura paterna menos ameaçadora aos propósitos desse engajamento: “O<br />

professor pode mesmo aparecer como garantia e fiança de legitimidade dos<br />

engajamentos mais distantes do universo escolar” (Bourdieu & Passeron: 1968,73) 42 . A<br />

busca por um vínculo fraternal aqui apontado por Bourdieu & Passeron não deve ser<br />

interpretada como um desvio nos enfrentamentos das relações de poder, porém como<br />

uma perspectiva alternativa para realizar tal enfrentamento - nisso mantendo uma<br />

interface com o que foi percebido na presente pesquisa. Por exemplo, a respeito do status<br />

acadêmico é dito que:<br />

“como o acesso a inteligentsia não é um projeto racional e razoável, senão<br />

para uma fração restrita de estudantes, qual pode ser a função dessa<br />

experiência fictícia e lúdica da condição intelectual, tal como é dado a todos<br />

os estudantes realizar durante vários anos, inclusive aqueles que não serão<br />

intelectuais?” [...] O exercício simbólico da profissão intelectual [...] das<br />

tarefas de intelectual acabado são, sob certo ponto de vista e para certas<br />

categorias de estudantes, uma das condições da adesão aos valores que<br />

dominam o mundo intelectual [...] Longe de ser um simples meio, a<br />

aprendizagem é, em si, seu fim” (BOURDIEU & PASSERON:1968,76).<br />

Numa interpretação pragmática, as palavras acima indicam que o status acadêmico<br />

pode ser tão ou mais valorizado que o saber que supostamente lhe é correspondente.<br />

Nesse específico sentido simbólico, a pesquisa sobre os estudantes de Paris pode<br />

estabelecer uma aproximação maior do “estudo” – ou melhor, da carreira de estudante<br />

- com o jogo do que com o trabalho. Os autores apontam que: “Pela natureza da sanção<br />

mais séria que ele encerra, o exame, o sistema universitário está, indubitavelmente,<br />

mais próximo do jogo que do trabalho” (Bourdieu & Passeron:1968,77). O que isso<br />

indica? Muito mais do que apontar que o estudo não é coisa séria, indica que a carreira<br />

de quem estuda se configura num desdobramento simbólico das relações dinâmicas<br />

suscitadas pelas situações de jogo - e o exame mede exatamente a capacidade do<br />

estudante controlar suas emoções em prol de uma meta a ser atingida - onde o campo<br />

42 - inclusive, na pesquisa em curso, alguns interlocutores ativistas antiproibicionistas tipicamente<br />

atuantes, são ex-alunos de um professor com tais características.<br />

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