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Tese 8 - Neip

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Eu sou curiosa, outro dia eu fui pela primeira vez numa sessão de Daime com o pessoal<br />

do Balance, já convivo com eles há três anos e eu me senti a vontade pra ir a um ritual<br />

aliado a uma substância psicoativa. Eu tinha curiosidade, mas, tinha medo e não sabia<br />

se eu ia me adaptar a aquele ritual, mas eu gostei.<br />

Estes dois trechos de depoimentos mostram que o desengajamento com a<br />

religiosidade de base cristã não impediu que seus sujeitos buscassem alguma<br />

modalidade de transcendência. De fato se mostram predispostos a serem mais críticos e<br />

mesmo irônicos quanto às contingências: “Digamos que eu seja uma pessoa de pouca<br />

fé, é por isso que eu rezo muito pra Jah”, disse Oscar pausadamente. Há quem, de modo<br />

menos irônico, porém jocoso, reflita sobre as consequências de sua formação cultural:<br />

T. V. - Você teve formação religiosa?<br />

Salomé - Eu digo que lá em casa que a gente é católico apostólico baiano, porque<br />

estudei em colégio de freira, fiz comunhão, meus pais são casados na Igreja católica<br />

mas frequentam centro espírita. Eu fui evangelizadora de juventude, mas também a<br />

família da gente tem uma relação com o candomblé. Recentemente eu pratiquei Yoga.<br />

T. V. - Essa bagagem lhe coloca em conflito com seu lado de usuária?<br />

Salomé - Com certeza! Uma vez eu fui a uma missa com minha mãe e o padre falou<br />

que era a hora de pedir perdão a Deus pelas coisas que não se conta pra ninguém. Na<br />

hora eu pensei que eu não ia pedir perdão por isso, porque eu não tou fazendo nada de<br />

errado. Isso não é pecado. Mas o conflito não é por ser usuária, nessa coisa cristã, o<br />

conflito é com o prazer. O que é bom da vida passa pela questão da sexualidade, da<br />

comida, do uso psicoativo de drogas.<br />

Se “o conflito não é por ser usuária, nessa coisa cristã, o conflito é com o prazer”, o<br />

ponto central em questão já não está em torno da transgressão ou do desvio através do<br />

consumo de drogas, está sim nos descontroles que podem acompanhar este consumo.<br />

Assumir que no seu ponto de vista “O que é bom da vida passa pela questão da<br />

sexualidade, da comida, do uso psicoativo de drogas” não leva Salomé a sentir-se<br />

culpada, leva-a a refletir sobre a compatibilidade entre seus valores atuais com os<br />

sustentados em seu passado de estudante CDF adversa a descontroles. A redução das<br />

culpas em relação aos seus hábitos de consumo faz com que Salomé atualmente se<br />

permita alguns descontroles no cotidiano, por exemplo, ela acha que está acima do peso,<br />

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