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Tese 8 - Neip

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2.6 – Mas o que é que o interprete interpreta?<br />

Antes de seguir o processo reflexivo e tendo como referência a noção de que a<br />

completude desta narrativa não se dará antes que o leitor execute suas reflexões sobre o<br />

texto, é necessário operar uma breve mediação metodológica para legitimar os<br />

parâmetros narrativos. Inicialmente, de que recursos disponho para dialogar<br />

duplamente; com os interlocutores em campo e com as minhas referências teóricometodológicas?<br />

Para não correr o risco de querer me aproximar do leitor do texto me<br />

afastando do interlocutor que encontrei em campo, elejo a hermenêutica como recurso,<br />

na medida em que esta, desde a primeira parte do projeto, se mostrou uma ferramenta<br />

metodológica hot, isto é, que permite configurar uma perspectiva dialógica, no sentido<br />

de salientar as peculiaridades das vozes presentes no diálogo, e que também abre ao<br />

leitor, a possibilidade de ser um intérprete deste diálogo. Assim sendo, busco minimizar<br />

corriqueiras reduções processuais que podem ocorrer, como a monologização do<br />

diálogo – tipo: “agora que também sou nativo, entendo o pensar e estou autorizado a<br />

falar pelo Outro” - que se desenha quando o estranhamento se torna familiaridade.<br />

O que está aqui proposto é uma construção na qual procuro não incorporar a fala do<br />

Outro à minha fala, mas sim problematizá-la com a fala que sustento. Esta perspectiva<br />

reflexiva tem potencial para superar tanto a dicotomia sujeito/objeto quanto a dicotomia<br />

metodologia/teoria. Tal proposta considera que a descrição ou a interpretação mantêm<br />

uma interface que pode ser representada como uma gradação, onde as sequências<br />

configuradas são mais ou menos sistematizadas em função do objeto. O que esta<br />

proposta hermenêutica rechaça é um discurso estritamente descritivo onde o<br />

pesquisador “naturalmente” represente o pesquisado, num sentido de representação<br />

platônico - universalizante e transcendental, adverso ao glocal e processual. Na<br />

construção das minhas percepções reflexivas numa teia de significados configurada com<br />

os significados propostos pelos interlocutores, tenho convicção de que se talvez entre<br />

estes eu possa ser até considerado um nativo, só o sou até o ponto em que não ameaço<br />

concretamente seus nativismos.<br />

A hermenêutica enquanto ferramenta reflexiva me potencializa para reduzir a<br />

ameaça de riscos aos interlocutores na medida em que me permite configurá-los não<br />

como exóticos em relação ao familiar ou como familiarizados em relação ao exótico,<br />

mas sim como exóticos em relação a minha familiaridade com o exótico e<br />

familiarizados em relação ao seu exótico familiar. Com esse recurso metodológico em<br />

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