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Tese 8 - Neip

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envolvidos com a organização do evento e foram arrolados no processo aberto pelo<br />

Ministério Público como apologistas. Estes interlocutores a partir de então se sentiram<br />

vulneráveis, o que não aconteceu durante nossa interlocução onde se mostraram seguros<br />

de seus posicionamentos políticos, e passaram a interpretar a minha escrita como um<br />

material que os incriminaria. Um dos dois chegou a dizer com voz alterada, que o meu<br />

texto descontextualizava sua fala, e que no mínimo estava mal escrito. Assimilei suas<br />

críticas, percebendo que a celeuma era uma defesa quase que natural de pessoas que se<br />

sentiam ameaçadas de serem estigmatizadas como apologistas da maconha quando seus<br />

propósitos eram bem diferentes. Retomei o texto tentando me colocar em seus lugares<br />

e respeitar seus sentimentos. Se muito do que me foi dito nas entrevistas ao ser revelado<br />

poderia ameaçar a integridade de meus interlocutores - um destes, havia me dito, um<br />

ano antes, que o maior receio de sua cônjuge era exatamente de que ele fosse visto<br />

como um apologista e fosse preso por isto -, restava a mim agir eticamente de modo a<br />

preservar a confiança que tiveram na nossa interlocução.<br />

Contudo, essa posição me levantou um outro problema para com a integridade da<br />

pesquisa: se o contexto que havia mudado não foi entre a nossa interlocução e a minha<br />

escrita, mas sim após a minha escrita, exatamente no setting político no qual os<br />

interlocutores atuavam, como explorar ao máximo os dados já construídos sem que isso<br />

prejudicasse a eles ou a própria pesquisa? Como a pesquisa ainda estava em curso -<br />

lembrando que uma possível interlocutora já havia declinado de participar da pesquisa<br />

com receio de que fosse feito uso do material de forma que pudesse prejudicá-la - será<br />

que esta polêmica iria dificultar que eu viesse a estabelecer relações de confiança com<br />

outros interlocutores?<br />

Nesse ponto do processo de pesquisa, minha estratégia e minhas expectativas a<br />

respeito é que se tornaram passíveis de uma observação mais atenta, pois, de acordo<br />

com o bom senso, para que consiga manter configurações de confiança, terei que<br />

sacrificar uma parte significativa de dados que estão sendo construídos. Por outro lado,<br />

me sinto na obrigação quase que obsessiva de explorar o material construído ao<br />

máximo, mesmo que aparentemente isso sugira uma quebra de contrato com as pessoas<br />

com as quais trabalho. A respeito de situações que levem a esse tipo de impasse<br />

metodológico, Canevacci afirma:<br />

“Aqui se insere um tipo de pesquisa/autopesquisa na qual a alteração<br />

obriga a ‘observar-se participante’, no sentido de que se podem ‘multiplicar<br />

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