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Tese 8 - Neip

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manifestações políticas, o que ficou registrado e incorporado na cultura das camadas<br />

sociais médias e altas, não foram explícita e exclusivamente as sequelas dos controles<br />

sociais extremos fomentados num processo ditatorial, mas sim a ressignificação de<br />

hábitos, com mudanças ligadas à esfera privada, aos cuidados de si, questões pouco<br />

ligadas diretamente às guerrilhas revolucionárias.<br />

Já os interlocutores que Velho chama de “anjos” são os herdeiros diretos desta<br />

geração de nobres, adolescentes e jovens sem valores de produção que pudessem<br />

abraçar, frutos de uma visão de mundo anômica – e esta anomia fazia de seu consumo<br />

de drogas não um comportamento de exclusão, mas uma modalidade elitista de<br />

inclusão. Os nobres negaram os valores de produção em busca de valores alternativos,<br />

muitos largando os diplomas acadêmicos para viver como outsiders à cultura de<br />

produção – mas geralmente sustentados financeiramente por suas famílias tradicionais,<br />

numa aporia que ao mesmo tempo rejeita e abraça os valores do passado. Os anjos nem<br />

se preocuparam em negar o passado, negaram o futuro de onde a carreira de estudante<br />

era o “estigma” a ser evitado, vivendo apenas para consumir o presente 51 .<br />

As gerações que se seguiram aos anos 1970 não deixam de refletir esta realidade. No<br />

livro 1968: o que fizemos de nós (2008), a análise que Ventura faz da nova geração dos<br />

anos 2000 partindo de uma comparação com os jovens de 1968 e valendo-se de uma<br />

interpretação da anomia enquanto processo desviante parece ser feita para os Anjos,<br />

para a juventude das camadas médias cariocas pesquisadas por Velho nos anos 70:<br />

“Filhos de um tempo que decretou o fim da história, das ideologias e das<br />

utopias, esses adolescentes adotaram como conduta a anomia, isto é, a<br />

ausência de regras, e decretaram por conta própria o fim dos limites e das<br />

interdições, instituindo o reino da permissividade”. (VENTURA:2008 B,<br />

22).<br />

Ventura pondera que nos anos 90, os caras-pintadas quando apareceram nas tvs<br />

caminhando e cantando pelas ruas, por algum momento pareceram que iriam ressuscitar<br />

o espírito estudantil de 68, mas sua atuação se restringiu a um fenômeno específico que<br />

foi o impeachment do presidente Fernando Collor. O objetivo dos estudantes caraspintadas<br />

esteve em torno da configuração da segurança coletiva no sentido democrático<br />

e não das liberdades individuais dos próprios democratas. Já aqui nesta pesquisa ligada<br />

51<br />

– com exceção desse desencantamento com a carreira estudantil, os anjos, quanto ao estilo de vida,<br />

possuem muitos pontos em comum com os interlocutores universitários da pesquisa corrente,<br />

principalmente, a busca por liberdade para consumir drogas.<br />

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