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Tese 8 - Neip

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era um curso com perfil proibicionista. Este último juízo de valor que creditou ao curso<br />

uma representação antiproibicionista, garantiu que os presentes não me vissem como<br />

um opositor aos valores do grupo. Como resultado, eles me olharam sem manifestar<br />

maiores estranhamentos ou entusiasmos. Um deles me perguntou jocosamente: “e pode<br />

fumar lá dentro?” Depois de alguns risos, quando eu disse que essa não era a proposta,<br />

ele não manifestou maiores interesses sobre o curso, assim como os outros que<br />

continuaram conversando. Após esclarecer qual era a proposta, e sem querer forçar a<br />

aproximação num primeiro contato, entrei numa conversa que alguém puxou sobre<br />

música. Um baseado estava aceso circulando de mão em mão e um outro estava sendo<br />

confeccionado em meio a conversas paralelas. Três dos presentes não estavam fazendo<br />

uso, mas isso não pareceu ser motivo de conflito ou constrangimento.<br />

Um dos presentes fumou o baseado deitado numa rede armada entre dois coqueiros,<br />

quando comentei sobre a coincidência dele estar com uma rede à mão num momento<br />

como aquele. Meio que surpreso com minha observação, ele retornou: “não é<br />

coincidência não, eu trago essa rede todo dia pra fumar um aqui!”. Como ninguém riu,<br />

percebi que não era uma piada. Tal discurso soou relevante, já que pareceu se encaixar<br />

na representação de que “a galera do mirante” não quer nada além de fumar maconha,<br />

numa explícita entrega irrestrita ao princípio de prazer. Mas o comportamento<br />

específico daquele usuário talvez não seja tão típico – apesar de servir como estereótipo<br />

– pois demanda certa racionalidade instrumental: para montar a rede, o usuário teria que<br />

transportá-la frequentemente – sendo que ele não possuía um veículo - quer dizer, para<br />

configurar um setting “macunaímico”, este estudante demanda constantemente um set<br />

afetivo-emocional motivado. Essa possibilidade me fez refletir: o que estes estudantes<br />

estão fazendo não é apenas fumar maconha e se divertir, eles estão configurando um<br />

setting de produção universitária como um setting de convivência, setting onde as<br />

possibilidades de segurança se encontram interpenetradas com as possibilidades de<br />

liberdade.<br />

Bem, como cada setting tem suas configurações específicas, uma professora chamou<br />

a atenção de que, na então Faculdade Jorge Amado, uma das mais respeitadas<br />

faculdades particulares de Salvador, os valores e representações dos estudantes são bem<br />

distintos destes citados acima. Um grupo de usuários de maconha que costumava se<br />

reunir para fumar no estacionamento não foi tão tolerado e acabou sendo denunciado<br />

pelos próprios colegas à diretoria que autorizou a entrada da polícia no campus para a<br />

detenção dos infratores. Um deles chegou a ser indiciado como traficante. Além do<br />

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