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Tese 8 - Neip

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pesquisador – que a essa altura já beirava a paranóia - como alguém infiltrado entre os<br />

nativos para catalogá-los. Ampliando a perspectiva comparativa da observação, esse<br />

campus universitário não é o único setting de consumo de drogas onde há conflito:<br />

T.V. - Hoje na escola de música há consumo de drogas?<br />

Mozart - Rapaz, quando eu entrei tinha uma galera barra pesada. Bateram boca<br />

com chefe de departamento, chegou o ponto do diretor da escola ir lá em cima (risos),<br />

só que ele era muito legal, entendeu a história porque era muito ligado à Arte. A gente<br />

fumava e produzia, levava violão, era o nosso ambiente, o timing era outro. Tinha os<br />

doidozinhos lá que sentava e estudava mesmo... A música era algo ligado ao prazer,<br />

muito forte.<br />

T.V. - Havia um conflito entre usuários e não usuários?<br />

Mozart - Sim, tinha cara feia, e isso mudou agora. Raramente eu vejo alguém<br />

fumando maconha na escola, ou já vem fumado ou tá lá embaixo e fuma. Não tem mais<br />

aquele grupo que fumava, ia pra aula doidão, isso não existe.<br />

T.V. - Você acha isso uma coisa positiva ou negativa?<br />

Mozart - Eu acho isso positivo porque deixou de ser o foco. Eram adolescentes<br />

mesmo, eu via isso, que a galera tava num movimento às vezes de descoberta, deve ter<br />

estudado em escola particular, ainda mora junto com a mãe, tem status de ser um<br />

estudante da faculdade. Então, o cara fica doidão e curte aquele status de poder tar<br />

doidão ali dentro. Eu nunca encarava desse jeito, eu tinha sido doidão mas tava em<br />

outra fase. Entrei na faculdade na época que eu fui pra França, e eu vi aquela<br />

academia de música, e conheci a história dos compositores e comecei a viajar nessa<br />

onda. Eu ia pra rua e via os caras tocando jazz, eu ia pra rua tocar berimbau doidão e<br />

ganhava dinheiro (risos), botava a cuia lá e ganhava francos.<br />

Mozart percebe uma melhora na representação da comunidade estudantil de sua<br />

unidade com a diminuição dos doidões. Em seu ponto de vista, por algum tempo ele<br />

esteve em meio a uma comunidade imatura no modo como fez uso descontrolado do<br />

poder de representação do usuário: “tem status de ser um estudante da faculdade... o<br />

cara fica doidão e curte aquele status de poder tar doidão ali dentro”, porém, Mozart<br />

não perdeu a capacidade reflexiva para criticar sem rancor, o próprio comportamento –<br />

e essa dimensão autocrítica não corresponde à representação pública dos usuários de<br />

drogas. Além disso, foi no seu período on the road, em meio ao consumo de drogas,<br />

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