06.04.2015 Views

Tese 8 - Neip

Tese 8 - Neip

Tese 8 - Neip

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mais distintas que sejam suas visões de mundo, como um mecanismo de controle social<br />

alternativo em relação aos atuais mecanismos de controle. Essa perspectiva está<br />

ancorada na tese de que no estado de direito, onde o indivíduo tem liberdade legal para<br />

com seu corpo, a sociedade não pode violentá-lo em nome da segurança do próximo:<br />

Ter em sua posse drogas qualificadas de ilícitas para seu consumo<br />

pessoal ou consumi-las em circunstâncias que não tragam perigo<br />

concreto, direto e imediato para outras pessoas, são condutas<br />

privadas, que estão situadas na esfera individual, isto é, em um<br />

campo de atividades que diz respeito, unicamente, à intimidade e à<br />

vida privada de cada um. Faz parte da liberdade, da intimidade e da<br />

vida privada de cada um a opção por fazer coisas, que pareçam para<br />

os outros – ou que até, efetivamente, sejam – erradas, “feias”,<br />

imorais ou danosas a si mesmo”, (KARAM: 2003, 49).<br />

Nos dias de hoje fazer coisas “que pareçam para os outros” “erradas, ‘feias’, imorais<br />

ou danosas a si mesmo” pode ser interpretado como ameaça à segurança coletiva, mas<br />

esse é um risco que acompanha a busca por liberdade individual. Esta perspectiva não<br />

seria interpretada na Grécia Antiga como um conflito: “No uso dos prazeres [...] as<br />

regras morais às quais os indivíduos se submetem são muito distantes daquilo que se<br />

pode constituir uma sujeição a um código bem definido”, (Foucault: 2006, 52). Em<br />

outras palavras, entre os gregos “uma sujeição a um código bem definido” era estar sob<br />

o olhar público e proceder de acordo, era aceitar o sentido desse olhar sem sentir<br />

maiores estranhamentos, porém, longe desses olhares, não existiam limites para o uso<br />

dos prazeres. As fronteiras do controle social iam até onde os olhos e ouvidos da<br />

comunidade podiam captar. Não era imputada a vergonha ou a culpa aos que na<br />

privacidade usavam seus corpos para obter prazer. Nesse cenário, a temperança<br />

demandava levar em conta não apenas o próprio set do sujeito, mas principalmente a<br />

sua adequabilidade ao setting no qual se encontrava para operar os controles informais:<br />

“Pode-se reconhecer, na reflexão sobre o uso dos prazeres, o cuidado com uma tripla<br />

estratégia: a da necessidade, a do momento e a do status” (Foucault: 2006, 52). Como<br />

resultado da implementação desta estratégia a temperança pode ser hermenêuticamente<br />

definida como o limite entre o uso controlado e o uso descontrolado dos prazeres.<br />

Na cultura de consumo, o phármakon e a temperança são categorias ainda relevantes<br />

para pensar as drogas, tanto que as estratégias gregas de controle dos prazeres não são<br />

muito diferentes das estratégias de redução de danos que atualmente muitos<br />

interlocutores buscam praticar. E mais; num plano teórico, ao considerar o momento e o<br />

293

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!