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Tese 8 - Neip

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Leila Diniz - É! (risos), exatamente... depois do terceiro dia comecei a perceber como<br />

funcionava, tinha que ficar amiga de todos pra ter regalias como pedir duas carteiras<br />

de cigarro por dia, quando o certo é uma só, inclusive a maioria das pessoas<br />

internadas são fumantes, fumam sempre.<br />

T. V. - Ao sair de lá como você se sentiu em relação às drogas?<br />

Leila Diniz - Eu já tinha usado ácido uma vez só, e depois da clínica eu comecei a<br />

usar muito mais. Eu saí e de imediato comecei a usar. Passei uns dias em casa e fui<br />

morar com amigos meus. Nesse meio tempo eu me reconciliei com minha família, nós<br />

conversamos, mas falei que não rolava mais da gente morar junto porque foi uma<br />

reação muito forte, eu quis viver de outra forma.<br />

T. V. - Você se sente uma pessoa religiosa?<br />

Leila Diniz - Sim, eu frequento o Daime, frequento o Candomblé, eu só não<br />

estabeleço um vínculo mais afetivo.<br />

Começando pela questão religiosa, é possível constatar como uma pessoa de origem<br />

familiar católica faz a sua escolha pessoal enveredando pelo Daime e pelo Candomblé,<br />

mas sem querer estabelecer “um vínculo mais afetivo”. O que isso pode indicar? Pode<br />

indicar que Leila busca algum laço social com algumas comunidades, mas até em<br />

consequência de suas experiências familiares, não o quer muito apertado para que não<br />

se transforme num nó. Ela quer segurança coletiva, mas quer também a satisfação de<br />

poder obtê-la com liberdade.<br />

Por outro lado, inevitavelmente o foco no relato de Leila pode ser posto na via-crúcis<br />

pouco religiosa pela qual passou. Primeiramente sendo internada à força, enquanto em<br />

seu ponto de vista, era sua mãe bipolar que carecia de maiores cuidados. Depois, foi<br />

submetida a procedimentos terapêuticos de controle com potencial muito mais<br />

desestruturante do que estruturante; administraram-lhe uma droga sem seu<br />

consentimento, teve que dormir amarrada, foi isolada e privada de contato com seus<br />

pares, e ainda acabou estimulada a consumir tabaco descontroladamente como<br />

mecanismo de reinserção social na comunidade de internos: “Cigarro podia, a clínica já<br />

tem o seu estoque, nem precisa pedir a família – e foi aí que eu comecei a fumar tabaco,<br />

fumei um maço e meio por dia”.<br />

Todos esses mecanismos de controle coercitivos como humilhações e<br />

constrangimentos configuraram um processo ao qual Leila, uma estudante universitária<br />

aos 20 anos ao ser submetida, foi lançada numa autêntica ampliação de danos a saúde<br />

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