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Tese 8 - Neip

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e dos fãs que se solidarizam com suas confissões públicas ao invés de simplesmente<br />

receber penas criminais e exclusão de círculos sociais. A assimilação desses controles<br />

parece conferir uma margem de segurança equacionada à liberdade aparentemente<br />

irrestrita. Este padrão cultural, pelo qual algumas celebridades optam ao escolher um<br />

estilo de vida onde a liberdade é configurada em interface com uma segurança<br />

previamente conquistada, é um padrão com potencial para gerar reflexividade também<br />

entre – e talvez, principalmente - usuários que não tem muitas opções de liberdade com<br />

segurança, nem de segurança com liberdade.<br />

E é nesse sentido que, saindo das manchetes de jornais e entrando nas salas e campi<br />

universitários, a vulnerabilidade dos estigmatizáveis consumidores de drogas pode<br />

encontrar abrigo no desejo de pertença em uma comunidade. Mas que modelo de<br />

comunidade seria este? Longe de ser um modelo fechado, inicialmente essa proposta de<br />

comunidade contemporânea pode transcorrer num sentido contrário da representação<br />

dominante, de que droga se aprende a consumir nas ruas - em meio a insegurança e ao<br />

risco não calculado -, na medida em que alguns interlocutores, viveram suas<br />

experiências iniciáticas nos seios das próprias famílias:<br />

Cleópatra - Eu fumo já há 8 ou 9 anos, (na época da entrevista estava com 22) mas<br />

eu tenho contato com a maconha há bastante tempo porque meu pai é usuário.<br />

T. V. - E a relação dele com você e a maconha é tranquila?<br />

Cleópatra - Na verdade desde pequena eu percebo que meu pai e meus tios, irmãos<br />

do meu pai, sempre fumavam, vi que tinha um cheiro diferente e que eles não fumavam<br />

em qualquer lugar. Quando eu tinha mais ou menos 8 anos, meu pai chegou pra mim e<br />

uma prima minha que o pai também fuma, e falou: “ó, isso aqui que a gente fuma é<br />

maconha, cês vão ouvir muita coisa na rua e na televisão falando sobre isso, mas<br />

qualquer dúvida que vocês tiverem vocês vem perguntar pra gente”. Na hora que ele<br />

saiu, a gente: ‘ah, é maconha!’ Aquela coisa de Jornal Nacional, de prisão, era uma<br />

coisa normal na nossa vida. Não é a gente saber que era maconha que faria nossos<br />

pais virarem criminosos, e aí foi bem tranquilo.<br />

Quando eu comecei a fumar, logo de imediato eu nem contei pro meu pai, a gente<br />

nem morava junto, mas aos poucos ele foi percebendo, o jeito de tar se vestindo, os<br />

amigos, o som que cê tá curtindo, um dia ele falou pra mim: “ó, eu acho que cê tá<br />

fumando maconha, cê nunca me contou, mas da minha mão você só vai receber um<br />

baseado no dia que você chegar pra conversar comigo”. Eu tinha uns 15 (anos), eu<br />

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