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Tese 8 - Neip

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3.2 - O campo e suas vicissitudes<br />

Estava claro que se eu pretendia realizar cortes etnográficos em determinadas<br />

comunidades de usuários de drogas, seria preciso estreitar laços que possibilitassem ir<br />

além do que possibilita um questionário ou uma entrevista. Assim, metodologicamente,<br />

foi mais vantajoso utilizar as entrevistas como ponto de partida do que como ponto de<br />

chegada, pois a partir das sessões de entrevista fui estreitando contatos que me<br />

facilitaram compartilhar alguns momentos de relativa intimidade. Assim fazendo, pude<br />

perceber em que medida de seu estilo de vida cotidiano, o interlocutor é aquilo que diz<br />

ser com suas palavras – e nem me refiro a representação que o interlocutor acredita que<br />

os outros façam dele, mas de sua auto-representação. Não é nenhuma novidade que o<br />

que uma pessoa diz sobre si mesma, principalmente numa situação de entrevista, não<br />

corresponda exatamente ao seu atuar no mundo.<br />

As entrevistas foram marcadas a critério do interlocutor, geralmente em sua casa ou<br />

local de trabalho/estudo, o que já me favoreceu uma leitura inicial do seu setting. A<br />

maior parte dos sujeitos apresentou um estilo de vida que pode ser identificado como<br />

estilo condizente com as perspectivas das camadas médias urbanas, principalmente pelo<br />

padrão de moradia. Por exemplo, numa das situações antropologicamente mais “ricas”,<br />

um estudante de doutorado em Comunicação que morava só num bairro bem popular<br />

parecia fazê-lo por opção política e não por limitações econômicas. Na condição de<br />

bolsista, sua residência era incrivelmente produzida: dois laptops e um computador de<br />

mesa com conexão banda larga, aparelho de tv de última geração, dois celulares, muitos<br />

livros na estante, além de veículo, e uma verbal mensal para psicoativos em torno de R$<br />

300,00.<br />

Alguns interlocutores sem renda própria ainda moravam com os pais, outros na<br />

condição de bolsistas dividiam moradia com colegas ou companheiros, uma<br />

interlocutora também bolsista morava só numa casa de praia e ainda um deles, oriundo<br />

das camadas superiores, morava com a esposa numa cobertura bastante confortável.<br />

Entre os que não moravam com as famílias de origem, havia vários arranjos, mas<br />

geralmente envolvendo outras pessoas também usuárias, seja como cônjuge seja como<br />

colega. Em relação ao sustento econômico, 55% deles, incluindo os de graduação,<br />

possuía bolsas de estudo, demonstrando que suas qualidades acadêmicas não eram<br />

deficientes. Esta maioria dispunha de recursos para manter seus consumos em dia, e não<br />

só de alimentos e de material de estudo, mas principalmente o consumo de psicoativos.<br />

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