06.04.2015 Views

Tese 8 - Neip

Tese 8 - Neip

Tese 8 - Neip

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

- Ela (a funcionária) chegou uma vez gritando com a galera que tava fumando e<br />

algumas pessoas em reação diziam: “eu não tou só fumando, eu tou fazendo um ato<br />

político, porque é um espaço que eu uso da minha forma”. Tentando mediar a situação,<br />

uma professora não usuária interferiu dizendo: “eles vão fumar aonde, na rua? Na rua<br />

não pode!”.<br />

Sem sobrevalorizar o aspecto emocional deste episódio específico onde nem os<br />

estudantes nem a funcionária conseguiram reduzir os danos sociais da problemática –<br />

pelo contrário, até ‘incendiaram” o conflito - faz-se necessário observar que as atitudes<br />

de pessoas e grupos são incontornavelmente marcadas pelo grau de controle ao qual<br />

submetem suas emoções (Freud: 1974 B, Weber: 1982, Elias: 1990). Em uma academia<br />

universitária que sustenta uma representação dominante ante a sociedade de ser um<br />

espaço cultural onde se trabalha “exclusivamente” com processos racionais<br />

intelectualizados, a racionalização das emoções enquanto cota de civilidade é cobrada<br />

em proporções muito maiores.<br />

Dito isto, é passível de observação que os estudantes usuários envolvidos na polêmica<br />

acima cobrem essa racionalidade dos setores docentes e administrativos da academia -<br />

mas nem tanto deles mesmos - ao defenderem a delimitação do espaço universitário<br />

como um setting comunitário onde deve haver maior compreensão para com suas<br />

demandas por parte da comunidade acadêmica, explicitado no “eu não tou só fumando,<br />

tou fazendo um ato político”. Nesta situação, esta comunidade de usuários considera os<br />

controles sociais estabelecidos pela comunidade acadêmica ortodoxa como obstáculos a<br />

serem vencidos na construção de sua identidade, na formulação de suas representações<br />

individuais e coletivas. Neste modelo de configuração 95 o Nós-grupal desses outsiders<br />

busca estabelecer seu espaço contestando valores dominantes, independentemente de<br />

serem tais outsiders uma minoria – ou até por isso mesmo. Questionada sobre a<br />

possibilidade de um projeto de redução de danos sociais na faculdade ser bemsucedido,<br />

a mesma estudante respondeu:<br />

- Eu acho que só de sentar e discutir já é uma redução de danos, porque eu acredito<br />

que a maior redução de danos é você tentar permitir que o outro pense sobre uma<br />

95 - modelo de configuração que já havia sido apontado na primeira parte desta pesquisa, a dissertação de<br />

mestrado: Consumir e ser consumido eis a questão, (VALENÇA: 2005) onde o foco recai sobre o<br />

consumo de drogas por professores.<br />

91

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!