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Tese 8 - Neip

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Pondo em relevo o dado de que a mãe de Marley é consumidora controlada de<br />

maconha enquanto a mãe de Garrincha nunca consumiu drogas ilícitas e aparentemente<br />

nunca considerou a possibilidade de fazê-lo, o estabelecimento de vínculos dialógicos e<br />

de confiança está mais próximo do primeiro interlocutor. As relações de confiança<br />

quando exercitadas dialogicamente podem dispor os indivíduos a por em prática sua<br />

reflexividade. Isso porque o simples consumo não faz da pessoa que consome<br />

necessariamente ter sempre uma opinião objetiva sobre o consumo. Marley por<br />

exemplo, que parou com as outras drogas e eventualmente fuma maconha, acredita na<br />

escalada das drogas a partir da maconha. Por outro lado, Garrincha que não tem maiores<br />

interesses por maconha e sim em drogas consideradas mais pesadas, não acredita que a<br />

maconha seja - enquanto substância psicoativa - a porta de entrada para outras drogas. O<br />

problema, segundo ele, está na configuração do setting:<br />

Garrincha - O CETAD tem uma questão de redução de danos, essa redução pra<br />

quem tem dependência química, talvez não seja o melhor. Porque imagina no meu caso,<br />

tirar a cocaína, não dá pra reduzir os danos usando maconha, porque eu retorno pra<br />

cocaína. Eu não tou dizendo que a maconha é uma porta de entrada, não é isso, é por<br />

causa do ambiente, eu tou fumando um e daqui a pouco eu já tou indo pra onde rola a<br />

cocaína e o álcool.<br />

Depois da experiência com os controles formais rígidos de uma instituição religiosa,<br />

Garrincha também sentiu dificuldades para lidar com os controles informais de uma<br />

instituição como o CETAD, que em seu projeto de redução de riscos e danos não<br />

submete o sujeito à privação do arbítrio, pelo contrário, chama-o à responsabilidade. O<br />

que Garrincha acabou indicando indiretamente é que seu set emocional carece de<br />

controles formais que de certa forma “assumam-lhe” a responsabilidade, porém<br />

controles não tão rígidos quanto os de uma instituição religiosa. Quanto ao setting, ele<br />

interpreta sua “dependência química” como diretamente dependente do ambiente onde<br />

frequenta: “essa redução pra quem tem dependência química, talvez não seja o melhor<br />

[...] é por causa do ambiente”. Nesse sentido, Garrincha é o que Bauman chamaria de<br />

consumidor falho, pois se na cultura de consumo se pode consumir de tudo com<br />

responsabilidade, Garrincha parece abrir mão da responsabilidade sobre seu consumo na<br />

espera que alguma “instituição” o faça. Talvez uma experiência que possa ter sido<br />

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