Tese 8 - Neip
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puderam ganhar a estabilidade de habitus sociais. Contudo, em 1968 a realidade local<br />
era outra:<br />
“Distingo uma diferença bem significativa entre o 68 nos países em<br />
desenvolvimento e o 68 norte-americano e europeu. Aqui houve um choque<br />
direto contra a repressão, contra a falta de democracia. Lá, o movimento se<br />
deu no contexto democrático. Enquanto nós estávamos mais voltados para a<br />
obtenção da democracia, eles já transcendiam esse campo, suas lutas já<br />
eram culturais” – Fernando Gabeira (VENTURA:2008 B,162).<br />
“Ao contrário de outros países onde a motivação tinha a ver com exigências<br />
de liberdade sexual, o movimento no Brasil foi desde o começo<br />
essencialmente político. Na França, alunos da Universidade de Nanterre<br />
deram início a insurreição com uma reivindicação de dormitórios mistos...<br />
Nos Estados Unidos, uma aluna da Universidade Columbia, revelou ao New<br />
York Times em off, com medo de aparecer, que dormia com o namorado nas<br />
dependências masculinas do colégio. Descoberta sua identidade, a jovem foi<br />
ameaçada de expulsão, e uma onda de protestos se transformou num grande<br />
debate sobre direitos individuais e sobre a moral da nova geração.<br />
Já no Brasil, as manifestações começaram com a morte pela polícia carioca<br />
do estudante Edson Luis, num protesto contra o FMI (Fundo Monetário<br />
Internacional) no restaurante estudantil do Calabouço. As moças brasileiras<br />
não carregavam o cartaz “Virgindade dá câncer”, como no México, mas<br />
“Abaixo a ditadura” (VENTURA: 2008 B, 96/97).<br />
Conquistada uma maior segurança num processo democrático, passa-se a ter mais<br />
espaço para lidar com as liberdades individuais e coletivas, e não apenas entre os<br />
universitários 50 . Esta etapa de transição, nos dias de hoje passa por fato já concretizado,<br />
tornada em habitus sociais que até parecem que sempre estiveram aí. Mas não é<br />
exatamente assim. Em Nobres e anjos (1998), Gilberto Velho retrata o desencantamento<br />
com o discurso estudantil – mas não apenas este - que se abateu sobre os órfãos desta<br />
geração revolucionária dos anos 60, na primeira metade da década de 70. Os sujeitos<br />
que ele chama de “nobres”, foram membros diretos desta geração; passaram pela utopia<br />
estudantil, pelo desencantamento com a situação política do país e pela busca de<br />
autoconhecimento intermediado em grande medida pelo consumo de drogas. Mesmo<br />
sendo esta uma época na qual a imagem universitária ganhou representação por suas<br />
50 - e já que toda regra não deixa de ter sua exceção, como interpretar a situação acontecida na Uniban<br />
em 22/10/09 quando uma aluna que trajava um vestido considerado muito curto foi hostilizada, ameaçada<br />
de estupro e perseguida por uma multidão de 700 colegas, a ponto de precisar de escolta policial para se<br />
proteger? Como interpretar a sua posterior expulsão da Instituição por desrespeitar “os princípios éticos”<br />
e a “dignidade acadêmica”? Como interpretar a revogação desta medida após a Instituição perceber que a<br />
sociedade se indignou com o mecanismo de controle empregado? Essa situação representa um patamar<br />
antidemocrático, onde os próprios estudantes representam o papel repressor e anticivilizatório que antes<br />
em 1968, muitos discentes condenaram. Por sua vez, a instituição em questão representa o que uma<br />
Instituição de ensino deveria combater: a intolerância aos habitus sociais estabelecidos como desviantes.<br />
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