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Tese 8 - Neip

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Esta tendência cultural leva ao que Featherstone representa como “descontrole<br />

controlado” 117 , mas poderia de forma mais completa representar como de descontrole<br />

controlado de emoções, pois em última instância, o que se propõe controlar ou não é o<br />

direcionamento mimético das emoções para algum modelo de consumo. O que<br />

caracteriza a primazia do descontrole controlado é que o consumidor acredita que o<br />

controle de seu descontrole está em suas próprias mãos ou do poder simbólico do<br />

dinheiro que tais mãos podem movimentar no consumo de distinções contemporâneas.<br />

Numa cultura onde o consumo é a via de busca por transcendência tornada<br />

adequadamente possível, o consumo de bens materiais antiteticamente configurados é<br />

central na geração de capital cultural.<br />

Em sua teorização sobre a cultura do consumo, Featherstone (1995) especula como<br />

os marcadores de status contemporâneos passaram a ser definidos por uma estrutura<br />

antitética, aporística, em diálogo constante com os valores vigentes, numa lógica<br />

cultural que sedimenta representações pela diferença. Em outras palavras, em relação ao<br />

consumo de drogas, as categorias; inclusão X exclusão, lícitos X ilícitos, norma X<br />

desvio apenas aparentam uma desordem estrutural, mas configuram uma dinâmica<br />

cultural onde as diferenças pontuam as relações. Os valores centrais da cultura de<br />

consumo levam em conta que oposições previamente estruturadas podem ser<br />

ressignificadas e reconfiguradas, de modo a capacitar indivíduos e grupos para usarem<br />

bens simbólicos com fins a estabelecer parâmetros de referência nos quais, mesmo a<br />

exclusão é representada como modo de inclusão. As oposições estruturais dependem da<br />

existência de padrões relativamente estáveis de disposição e princípios classificatórios –<br />

os habitus sociais – que são identificáveis e funcionam estabelecendo fronteiras de<br />

consumo entre indivíduos e grupos.<br />

Dentro da cultura da droga, por exemplo, é possível perceber variadas representações<br />

e polarizações antitéticas. Zaluar (2002) indica que, embora certos usuários consumam<br />

multiplamente maconha e cocaína, eles se distribuem em grupos antagônicos no que diz<br />

respeito ao ethos e às representações sociais associadas às drogas. Assim, a maconha<br />

estaria diretamente interfaceada ao relaxamento, à natureza, ao ócio e à paz, enquanto a<br />

cocaína estaria relacionada a um uso associado à aceleração da produtividade, à tensão<br />

das relações de competição e à agressividade concomitante. Estas categorizações<br />

implicam em hábitos, ritos, sanções e status distintos. Se na pesquisa com professores<br />

117 - descontrole controlado é uma expressão que Featherstone canibalizou de Elias (ELIAS & DUNNING<br />

1992,59).<br />

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