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Tese 8 - Neip

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“levados a confundir as rupturas simbólicas da adolescência com uma<br />

realização intelectual. Assim, inúmeras moças estudantes, das quais tantas<br />

escolhas permanecem regidas pelos mais tradicionais modelos, realizam a<br />

imagem que elas se fazem, da intelectual livre, libertando-se das normas<br />

sexuais [...] E o encanto de certos engajamentos políticos está<br />

frequentemente, de certa forma, em que eles permitem a consumação<br />

simbólica do rompimento com o meio familiar, sob a forma<br />

simultaneamente menos dolorosa e mais escandalosa. 44 O jogo tipicamente<br />

intelectual da tomada de distância de todas as limitações, quer se trate de<br />

origem social ou do futuro profissional e dos estudos que o preparam,<br />

chama e suporta o jogo da diferenciação pela diferenciação” (BOURDIEU<br />

& PASSERON:1968,79).<br />

Ao invés de um rompimento com padrões anteriores, as inquietações estudantis<br />

podem estar indicando um compromisso velado com a continuidade 45 . Eis uma<br />

construção identitária dos jovens universitários, onde a sexualidade e a militância<br />

política, muito mais do que ferramentas de corte e rompimento, funcionaram como<br />

atualizações das disposições comunitárias, nas quais os estudantes estavam inclusos.<br />

Sendo que o compromisso com a continuidade não é necessariamente sinônimo de<br />

acomodação, Bourdieu e Passeron percebem e apontam claramente a obsolescência da<br />

tentativa de operar uma “redução” da cultura universitária às racionalidades de uma<br />

cultura de produção: “as ideologias e as imagens suscitadas pelo relacionamento<br />

tradicional à cultura condenam a prática universitária, professoral ou estudantil, a<br />

apreender o real apenas indireta e simbolicamente, isto é, através do véu da ilusão<br />

retórica” (Bourdieu & Passeron:1968,83). De fato, no momento histórico em que tal<br />

pesquisa foi realizada na França, a retórica universitária insurgente estava sendo usada<br />

para desconstruir a retórica estabelecida.<br />

Segundo esses autores há duas perspectivas – pelo menos! - quando se enfatiza as<br />

bases da condição estudantil, levando em conta que, se a maioria dos universitários<br />

possui aspirações “burguesas” de consumir, nem todos possuem condições econômicas<br />

de levar esse consumo à cabo:<br />

“uma é característica, sobretudo dos estudantes de origem burguesa, que<br />

fazem dos seus estudos uma experiência em que não entram problemas mais<br />

sérios do que eles aí introduzem. O outro exprime a inquietude do futuro,<br />

própria dos estudantes vindos das camadas sociais mais afastadas da cultura<br />

escolar e condenados a vivê-la irrealmente” (BOURDIEU & PASSERON:<br />

1968,86).<br />

44 - reflexão compatível com a relação do interlocutor Rimbaud com sua mãe, apresentada mais adiante.<br />

45 - hoje em dia configuradas em seus respectivos settings, estas inquietações estudantis soariam muito<br />

menos intelectuais e muito mais reflexivas, pragmáticas.<br />

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