06.04.2015 Views

Tese 8 - Neip

Tese 8 - Neip

Tese 8 - Neip

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Cleópatra - Foi uma das coisas que quando eu comecei a fumar, meu pai me falou:<br />

“você que fuma tem que fazer tudo em dobro, que qualquer coisa que você fizer de<br />

errado, qualquer vacilo, vão falar que é porque você fuma maconha”. Meu pai por<br />

exemplo, os pais dele descobriram que ele fumava maconha. Três dias depois ele<br />

passou em medicina na USP, aí vão falar o que? Ele cursou seis meses, pra provar que<br />

poderia fazer tudo que ele quisesse, então largou e fez cinema.<br />

T.V. - Será que esse fazer tudo em dobro não é um fardo, ou seja, cê ter que provar<br />

alguma coisa aos outros por fumar não lhe incomoda?<br />

Cleópatra - Não, não me incomoda ... fazendo em dobro ou não, a questão é não<br />

terem o que falar de mim. Eu não preciso provar nada pra ninguém, mas também não<br />

preciso ouvir crítica de ninguém.<br />

Essa é uma típica situação em que a produção de trabalho tem o efeito de uma<br />

redução de riscos em relação ao consumo, uma inversão para a representação corrente<br />

de que o maconheiro tende a ser inapto para a produção. Nesse caso, o consumo de<br />

maconha não é amotivacional, pelo contrário, é motivacional. Exceção à regra? Não,<br />

segundo outra interlocutora, Mata: “eu tenho que comprovar pela minha competência,<br />

que isso aí (consumo de maconha) não afeta nada. Então não tem conflito, mas também<br />

não dou muita abertura pra crítica”. É possível afirmar que se o conselho paterno<br />

acompanha a trajetória de Cleópatra ajudando-a a reduzir os riscos, nem toda herança<br />

familiar recebida pelos interlocutores é revestida pela confiança proporcionada pelo<br />

diálogo:<br />

T.V. - Antes da universidade você tinha contato com o mundo das drogas?<br />

Tutancamon - Eu tinha na verdade um contato com meu irmão quatro anos mais<br />

velho, ele fez de tudo que se possa imaginar e aí mora o problema. A questão é que<br />

como ele fazia é muito diferente do que eu faço hoje em dia, tocava o terror! Pra ele<br />

era um beck atrás do outro, não fazia porra nenhuma o dia todo, só pá, pá, pá. Estudar<br />

que nada, aí andava com a galera em boca de fumo. Se embananou todo, quase não<br />

consegue formar. E eu tive essa aproximação desde 13, 14 anos, mas sempre numa<br />

postura totalmente adversa. Ele teve que parar, se continuasse nessa não ia ter<br />

conseguido formar. Quando parou, tudo começou a dar certo porque a forma dele era<br />

daquela forma polarizada, era 8 ou 80. Eu tinha repulsa, eu não tinha nem medo,<br />

181

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!