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Tese 8 - Neip

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III – A ação<br />

3.1 - Cortes etnográficos: aproximações e apreciações<br />

Apesar de já ter feito referência às resistências que encontrei em campo, talvez seja<br />

interessante relatar que enquanto ainda a pesquisa não era de conhecimento público, a<br />

minha aproximação inicial não foi tão difícil. Por ter sido acidental, foi até fácil. Entre<br />

2003 e 2004 enquanto estava realizando a primeira parte da pesquisa, centrada no<br />

consumo de professores, ministrei um curso intitulado Drogas em curso! no CETAD.<br />

Este foi um curso dirigido para estudantes universitários onde 60% da turma foi<br />

constituída por usuários, 20% por ex-usuários e 20% não se considerando usuários –<br />

apesar destes fazerem uso social do álcool, não o consideravam como droga. O<br />

diferencial entre os estudantes usuários e os ex-usuários é que os últimos foram usuários<br />

problemáticos de droga lícita, o álcool etílico, – inclusive havendo envolvimento com<br />

violência e prisões – ao passo que os usuários de droga ilícita – a maconha,<br />

principalmente – que “estavam na ativa”, não eram usuários problemáticos, conseguiam<br />

manejar bem seus vários papéis sociais sem deixar que o consumo lhes estigmatizasse.<br />

No curso, a demanda desses últimos, além da busca por novas informações sobre o<br />

consumo, era uma procura por ferramentas científicas que possibilitassem a construção<br />

de uma via de representação para a categoria dos usuários menos impregnada por<br />

valores estigmatizados/estigmatizantes. Boa parte do curso foi gasta com discussões<br />

sobre possíveis representações que os reconhecessem como inseridos nas redes de<br />

produção e consumo e não como excluídos. Merece destaque que dos dez participantes<br />

sete pertenciam a área de ciências humanas, o que me fez pensar que esta realmente<br />

seria uma área profícua para observação. Nesse momento em que possuí o status<br />

temporário de professor, conheci alguns interlocutores que futuramente iriam participar<br />

da segunda parte da pesquisa.<br />

Algumas semanas depois de iniciado o curso, guiado por um estudante de graduação,<br />

realizei uma aproximação junto a um grupo que estava frequentando “o mirante” de<br />

FFCH, já citado pela estudante redutora de danos (pg.90). Havia oito pessoas reunidas,<br />

cinco homens e três mulheres que não deveriam passar dos 25 anos. O guia me<br />

apresentou como alguém que estava ministrando um curso sobre drogas 135 , mas que não<br />

135 - Nesse momento ser apresentado como professor causou menos estranhamento entre os estudantes do<br />

que posteriormente quando fui percebido por outros interlocutores como estudante pesquisador.<br />

138

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