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Tese 8 - Neip

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1.8 - O homo academicus em algumas configurações contemporâneas<br />

E por falar em movimentos universitários, afinal quem são os estudantes<br />

universitários? No âmbito local se sabe que 79,6% dos jovens baianos não são<br />

universitários (A Tarde: 05/09/08), mas quem são esses outros 20,4%? Para chegar<br />

perto de uma resposta que não seja meramente estatística é preciso deixar<br />

momentaneamente de lado as fronteiras geográficas da Bahia e observar que a categoria<br />

estudante universitário ganhou maior visibilidade no mundo a partir da década de 1960<br />

do século XX. É a partir desse setting específico que são aqui trazidas algumas<br />

perspectivas das ciências sociais que possam ser consideradas significativas para os<br />

propósitos de construir um diálogo com a condição de ser universitário na<br />

contemporaneidade. Assim, num primeiro momento estabelecendo uma ponte dialógica<br />

com os sociólogos Bourdieu & Passeron (o tempo e o espaço no mundo estudantil,<br />

1968) é interessante ressaltar como estes autores interpretaram o campo universitário de<br />

Paris, inicialmente como campo de ruptura com as tradições estabelecidas na<br />

administração do tempo de trabalho e do tempo de lazer:<br />

“A condição de estudante permite quebrar os padrões temporais da vida<br />

social ou mudar-lhe a ordem. Sentir-se estudante é, de início, e talvez antes<br />

de tudo, sentir-se livre para ir ao cinema a qualquer hora e, por<br />

conseqüência, nunca aos domingos como os demais; é empenhar-se em<br />

enfraquecer ou submeter as grandes oposições que estruturam<br />

imperiosamente tanto o lazer como as atividades dos adultos; é fingir<br />

desconhecer a oposição entre os dias feriados e a semana, o dia e a noite, o<br />

tempo consagrado ao trabalho e o tempo livre” (BOURDIEU &<br />

PASSERON:1968, 62).<br />

De acordo com essa leitura, é possível interpretar que o estudante é antes de tudo, um<br />

“fingidor”, no sentido de ser um ator que vem a ter possibilidades de inverter papéis<br />

sociais sem com isso se descaracterizar. Ele é alguém que pode estabelecer como uma de<br />

suas prioridades, buscar a inversão entre feriado e dia de semana, sendo assim, alguém<br />

que possivelmente não necessita viver separadamente um tempo de produção e um<br />

tempo de lazer. E o que o autorizaria a se portar com essa autonomia? A obtenção da<br />

carteira de estudante, um título que mesmo temporário lhe credencia alguma distinção<br />

social. Na perspectiva apontada pelos autores, ser estudante é ser alguém que ao atingir o<br />

status universitário, pode fingir ser adulto até para escolher consumir o tempo de forma<br />

como só um não adulto pode fazê-lo. Sua autoridade para tanto é legitimada na medida<br />

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