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Tese 8 - Neip

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Para os reitores, o relativo controle nos dormitórios das instituições não<br />

impede os jovens de se embriagarem em outros lugares onde não estão sob<br />

vigilância. "Foi desenvolvida uma cultura de bebedeira clandestina e<br />

perigosa, que se dá frequentemente fora do campus", diz a carta assinada<br />

por líderes de instituições como a Universidade de Massachusetts e a<br />

Universidade Estadual de Ohio.<br />

O reitor da Universidade de Maryland se engajou no debate, sob argumento<br />

de que o abuso de álcool tem efeitos mais negativos que seu consumo<br />

regular. "Praticamente todos os estupros [no campus] estão associados com<br />

o abuso de álcool. Quase todos os ataques de qualquer tipo estão associados<br />

à bebida. A questão do limite de idade não é apenas sobre beber e dirigir",<br />

disse ele ao jornal "Washington Post", citando o fato que motivou a lei, em<br />

1984. "É uma questão muito maior, e nós, reitores, conseguimos vê-la<br />

amplamente."<br />

"Assinei o documento porque incentivo a exploração de novas idéias e<br />

novas abordagens sobre a melhor maneira de preparar jovens adultos para<br />

tomar decisões responsáveis quanto ao álcool", disse a imprensa o diretor<br />

do Westminster College.<br />

Embora muitas mães de alunos tenham se queixado das reflexões desses reitores, é<br />

possível perceber que por trás da elasticidade na ressignificação dos controles sociais<br />

formais presente nesta surpreendente possibilidade de tolerância ao consumo, o<br />

objetivo central é configurar uma maior “vigilância” sobre os consumidores dentro dos<br />

campi. Eis um modelo politicamente correto de descontrole para controlar, favorecendo<br />

que os universitários operem responsabilidades em relação aos seus consumos de<br />

álcool. Adotando uma perspectiva oposta à adotada pela USP no caso Baladaboa, estes<br />

reitores favorecem uma ressignificação para a problemática do consumo de álcool, ou<br />

no mínimo uma amortização das representações estigmatizantes em torno deste. Nesse<br />

sentido, esta estratégia de controle de riscos no ambiente universitário pode ter<br />

consequências amplamente pragmáticas para a comunidade na medida em que as<br />

demandas dos estudantes não foram reprimidas, foram respeitadas. Esses reitores<br />

ousaram por não temeram se opor ao discurso proibicionista que inclusive injeta<br />

dinheiro nas Universidades. Sobre essa relativa autonomia institucional o sociólogo<br />

Fernando Henrique Cardoso traçou o seguinte comentário: “A grande virtude da<br />

universidade americana é que ela tem auto-estima, não tem medo, fala com o dono do<br />

poder e com o dono da empresa, sabe que não vai se vender nem ser cooptada. A nossa<br />

não, a nossa fica isolada por medo. Do governo então ela tem horror.” (Ventura:2008<br />

B,181).<br />

Um último aspecto fundamental sobre o sistema especialista midiático que aqui<br />

merece destaque é que há casos em que a mídia até procura ser “simpática” com a<br />

problemática, mas a necessidade de produzir notícias espetaculares pode tomar o lugar<br />

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