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Tese 8 - Neip

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mãos me sinto autorizado a “participar” de seus contextos, de suas configurações<br />

culturais, onde as teias de significados do consumo de drogas podem vir a ganhar<br />

sentido.<br />

Em relação à cultura de consumo a hermenêutica favorece uma concepção de cultura<br />

na qual as representações que não possam ser relacionadas com as contingências tendem<br />

a perder fôlego – nesse caso isso significaria não perceber como o consumo de<br />

substâncias psicoativas possibilita criar vínculos e estabelecer distinções sociais, na<br />

medida em que as drogas são culturalmente revestidas de camadas de valores que por<br />

sua vez são potencializadas de acordo com as contingências do setting. As<br />

contingências indicam que a ausência de perenidade das representações é a condição<br />

que viabiliza pensar uma cultura de consumo. Assim, na prática, as pesquisas em<br />

ciências sociais que não dialogarem com as contingências que envolvem o acesso à<br />

cultura dos interlocutores, e ao invés disso congele-os na “camisa-de-força teórica”,<br />

correm o risco de desconstruir o objeto ao invés de construí-lo. Dialogar é estar atento e<br />

aberto às incertezas e aos riscos, interpretando os processos culturais enquanto teias de<br />

valores e significados interdependentes, interpenetrados e processuais. Como já disse<br />

Geertz:<br />

“Acreditando como Weber que o homem é um animal amarrado às teias de<br />

significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias<br />

e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de<br />

leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado.”<br />

(Geertz: 1989, 4).<br />

Se assim for, cientificamente a interpretação pode ser uma valiosa construção<br />

dialógica com o que os outros “pensam e fazem”, e ao fazer uso desse procedimento<br />

hermenêutico, estou também possibilitando que outros interpretem o que eu penso e<br />

faço. Encarando o risco da proposta, interpretar o papel de hermeneuta numa<br />

investigação sobre consumo de drogas é assumir que o sujeito que ao tentar se<br />

aproximar para interpretar correndo o risco de se distanciar, também pode e acaba sendo<br />

interpretado. Em última instância, este é um risco inevitável e até esperado quando se<br />

está numa configuração polifônica: como assimilar as interpretações da interpretação. A<br />

essa elaboração, acrescento que para ter alguma familiaridade com os significados<br />

configurados pelo Outro, assim como ter referências num repertório interpretativo<br />

adequado à comunidade em foco, não é fundamental me tornar nativo – e os<br />

interlocutores me mostraram mais de uma vez que sabem da quase impossibilidade<br />

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