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Tese 8 - Neip

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T.V. - Nesse período como você arranjava dinheiro pra comprar drogas? Você<br />

tava trabalhando?<br />

Garrincha - Não, não tava... o jeito de arranjar dinheiro é complicado. Às vezes<br />

pegava emprestado... às vezes vendia alguma coisa minha... antes conseguia sustentar o<br />

meu vício, já trafiquei pra sustentar o vício, em Brasília.<br />

Garrincha encerrou esta última fala cabisbaixo, com dificuldade para traduzir a<br />

vergonha em palavras, inclusive se retirando por alguns minutos para consumir um<br />

cigarro de tabaco no silêncio do jardim. O que lhe proporcionou tanto constrangimento<br />

é que ele durante certo período praticou pequenos furtos, hábito que pouco tempo<br />

depois de nosso derradeiro encontro, veio a retomar, desta vez em relação a objetos da<br />

própria casa, sendo posteriormente conduzido pelos familiares para nova internação. O<br />

que este caso permite questionar é: como a responsabilização pelos riscos corridos pode<br />

ser útil a Garrincha? Uma possível resposta está na minimização do seu sentimento de<br />

vergonha por não controlar os tais riscos.<br />

Em relação às expectativas dos outros interlocutores da pesquisa foi possível<br />

verificar que hermeneuticamente, cada um sustenta uma visão muito particular do que<br />

sejam riscos, riscos muitas vezes interpenetrados com danos. A responsabilização pelos<br />

próprios riscos 180 pode ser interpretada como uma estratégia profilática, um<br />

procedimento a priori. Por sua vez, a redução de danos é uma estratégia terapêutica, a<br />

posteriori. Já que nem sempre os interlocutores operam esta diferenciação conceitual, é<br />

viável relacionar as estratégias e perspectivas definidas por eles como ressignificações<br />

sobre o consumo de drogas. Estas estratégias são aqui interpretadas enquanto<br />

configurações de habitus sociais de controle.<br />

Lampião - O alcance e a adesão de usuários à idéia de redução de danos acontecem<br />

de uma maneira mais interessante, pois se pauta no diálogo e convencimento e coloca<br />

o cidadão como sujeito da sua ação. E mais uma coisa interessante é que as idéias não<br />

são postas de maneira punitiva ou repressora ao usuário... “você não pode isso ou<br />

aquilo"..., mas de maneira educativa.<br />

180 - na perspectiva de Beck (1997,15), a sociedade contemporânea é uma sociedade de risco na qual “os<br />

riscos sociais, políticos, econômicos e individuais tendem cada vez mais a escapar das instituições para o<br />

controle e a proteção”. A modernização reflexiva possível estaria na responsabilização individual<br />

(1997,18) por este controle e por esta proteção, pondo em xeque o que foi previamente estabelecido por<br />

instituições e especialistas.<br />

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