Tese 8 - Neip
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08 de julho em Brasília, aconteceu pela primeira vez na história desta instituição um<br />
debate em torno da descriminalização. Ampliando o espectro de pesquisas sobre a<br />
problemática, nos dias 4 e 5 de outubro a SENAD (Secretaria Nacional Antidrogas) 81<br />
juntamente com o IDT (Instituto de Drogas e Toxicodependência de Portugal)<br />
promoveu em Brasília o I Seminário Internacional da Rede de Pesquisa sobre Drogas,<br />
premiando e incentivando pesquisas acadêmicas tanto na área de Saúde quanto nas<br />
Ciências Sociais. A partir de 2007 eventos desta natureza ganharam regularidade.<br />
Um aspecto a se ressaltar em torno dessa superexposição pública de um até então<br />
estigmatizado objeto de investigação, está no fio que une esses variados eventos. As<br />
reflexões debatidas não partiram da premissa de que o consumo de drogas seja uma<br />
questão de análise por um prisma intervencionista exclusivamente médico-policial,<br />
mediado por um parecer jurídico inquestionável: de que o fenômeno drogas, muito mais<br />
do que ser configurado e interpretado culturalmente deve ser uma cultura a se banir.<br />
Esta perspectiva que é um resquício inequívoco da política pública norte-americana de<br />
“Guerra às drogas”, vem se mostrando visivelmente ineficiente no enfrentamento da<br />
questão 82 . Tentando superar este impasse, duas proposições hermenêuticas estão<br />
ganhando voz: 1° - as percepções reflexivas feitas em torno de usuários de substâncias<br />
psicoativas não indicam necessariamente o envolvimento direto destes com a violência<br />
do tráfico, mas sim com outros valores culturais correspondentes às suas glocalidades<br />
comunitárias, divergentes de valores dominantes em outras comunidades. 2° - tráfico e<br />
uso de drogas não são privilégios da pobreza econômica e dos excluídos da educação<br />
formal.<br />
81 - secretaria que em 2008 mudou o nome para Secretaria Nacional Sobre Drogas, apesar de manter a<br />
mesma sigla (SENAD). Não obstante essa mudança de nome em meio a manutenção da sigla ser algo<br />
meio confuso, a secretaria já ostenta um nome que sugere uma menor estigmatização do objeto de<br />
estudo.<br />
82 - nos EUA, tal guerra fecundada pelo presidente Nixon no começo da década de 1970 e que teve a sua<br />
emblematização no governo do presidente Ronald Reagan entre 1981 e 1989, é um desdobramento do<br />
discurso proibicionista e configurou um período em que um quarto de todos os jovens negros, do gênero<br />
masculino, estiveram ou na prisão ou em liberdade condicional, a maioria acusada de envolvimento não<br />
violento com drogas, enquanto o consumo de drogas nacional continuou sendo o maior do planeta<br />
(Shaffer, 1997). No Brasil, 14% da massa carcerária (170 mil pessoas), estão relacionados ao tráfico. E<br />
destes 14%, estima-se que 90% sejam pequenos entregadores, usuários que traficam para ter o que<br />
consumir, não para lucrar. (FSP, 04/08/08). Na Colômbia, o reforço econômico e militar norte-americano<br />
para erradicação das plantações de coca - chamado inicialmente de Plano Colômbia, posteriormente de<br />
Iniciativa Regional Andina e finalmente de Plano Patriota – rendeu controvérsias: Além das fumegações<br />
nos campos que devastaram as mais variadas agriculturas, pauperizando agricultores, as comunidades<br />
rurais foram forçadas a construir redes de informantes – gerando alcaguetes - para estabelecer os<br />
controles sociais que favorecessem as corporações militares, sendo assim lançadas num estado paranóico<br />
de falta de confiança e insegurança coletiva (Brasil de Fato, 2006 n° 158).<br />
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