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Tese 8 - Neip

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essentimento muito grande com essa instituição evangélica, lá tinham as próprias<br />

regras. Não saí feliz pelo fato de não usar drogas. Tava satisfeito com o fato da minha<br />

mão não tremer mais, feliz por ter finalizado o segundo grau... mas ter de trabalhar<br />

pro cara, trabalho físico! Tive que aguentar a questão de ser subordinado lá dentro,<br />

sem ter argumento e ter que tar adaptado à filosofia deles, aquela coisa cristã, eu não<br />

podia assoviar uma música que não fosse cristã!<br />

Em coisa de um mês aqui em Salvador eu recomecei o uso. Eu não culpo nada,<br />

outras pessoas. Assim como eu entrei num emprego, se eu tivesse uma cabeça boa<br />

poderia ter tocado uma vida boa, eu poderia ter pego esse um ano sem usar droga e<br />

tocado uma vida boa. Porém cheguei aqui e na primeira vez que eu peguei uma<br />

quantidade de dinheiro razoável fui e retornei pro uso de droga. Ou seja, aquilo que<br />

eles (a Instituição Evangélica) prometiam (a cura), não existe. Hoje eu tenho<br />

consciência de que o que vale pra sair do uso de droga é o desejo da própria pessoa.<br />

Não adianta a família, a justiça querer fazer qualquer coisa, que é o desejo da pessoa o<br />

que conta.<br />

A revolta de Garrincha quanto aos métodos de cura a que foi submetido parece<br />

aumentar sua dificuldade para estabelecer controles informais quanto ao seu consumo.<br />

Seu retorno ao consumo imediatamente após sair do internamento acabou sendo sua<br />

resposta à internação forçada, apontando que aqueles métodos que não lhe permitiam<br />

margem de escolha, falharam com ele. Essa resposta social pouco reflexiva e muito<br />

mais reativa mostra como a vergonha vivenciada por Marley se mostrou mais eficiente<br />

que a revolta de Garrincha quanto ao processo pessoal para estabelecer controles<br />

informais sobre o consumo:<br />

Marley - No início minha mãe não sabia, aí depois o segurança lá no colégio me<br />

seguiu pra praça que eu fui fumar, me pegou fumando e a escola ligou pra minha mãe.<br />

Minha mãe veio conversar comigo que eu tava muito novo pra fumar e ela na minha<br />

idade não fumava, que era uma coisa pra quem tinha a cabeça melhor, quem tem<br />

estrutura, pra quem é mais responsável com a vida, porque os jovens hoje em dia<br />

querem fumar e acham que podem passar o dia todo fumando, só leva a coisa ruim, e<br />

abre as portas pras outras drogas.<br />

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