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Tese 8 - Neip

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quase fecham o sentido em torno da impossibilidade de resgatar esse prazer arcaico e de<br />

certa maneira mítico, associado ao consumo de substâncias psicoativas:<br />

T.V. - O que você gostava no crack que não gostava na cocaína?<br />

Marley - Era muito mais forte. Uma sensação de euforia, cê ficava... sentia o gosto e<br />

queria sentir mais e cada vez mais. Cada vez que você fumava mais você sentia menos o<br />

gosto. Cê fumava mais e mais pra sentir o gosto que sentiu na primeira vez.<br />

Hofmann - Quando viajei a Amsterdã, tive acesso a LSD, êxtase, depois eu voltei pra<br />

cá interessado em ter outras experiências com essas coisas. Eu tinha 22 anos. Eu fui a<br />

Amsterdã com a intenção de conhecer essas coisas. Quando eu voltei pra cá foi uma<br />

decepção atrás da outra, eu nunca mais encontrei o que eu encontrei lá.<br />

O eterno retorno a um momento de satisfação sacralizado enquanto representação é<br />

uma interpretação que cabe para estas falas de Mozart, Marley e Hofmann. A busca,<br />

mesmo não atingindo seu objetivo último – na impossibilidade da satisfação plena -,<br />

cumpre seu papel enquanto ritual, pois é o que o motiva o consumidor a consumir mais,<br />

quase como uma compulsão. No presente caso em que o consumo de drogas baliza esse<br />

ritual de busca, as interpretações realizadas pelos interlocutores ajudam a visualizar as<br />

peculiaridades do processo.<br />

Estas interpretações aqui trazidas nas próprias falas dos interlocutores inicialmente<br />

indicam o perigo da homogeneização das drogas, pois maconha e LSD, de um lado, e<br />

cocaína e crack, do outro, recebem distintas interpretações de seus consumidores. As<br />

significações que lhes são imputadas não estão apenas nas palavras faladas, pois é<br />

possível analisar alguns sentidos no modo como essas falas foram expressadas.<br />

Enquanto Mozart emitia uma expressão fisionômica de contentamento ao falar da<br />

maconha sorrindo e gesticulando expansivamente, Marley falou do crack cabisbaixo e<br />

pensativo. Já Hofmann se expressou sobre as substâncias sintéticas com serenidade e<br />

olhos que pareciam não piscar para não perderem minha reação às suas palavras. O que<br />

conecta esses três modos de expressão acima registrados é que eles indicaram que seus<br />

emissários estavam em busca de algo mais do que encontraram. Outras falas ampliaram<br />

a perspectiva:<br />

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