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Tese 8 - Neip

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Não se trata de enquadrar os sujeitos desta pesquisa na perspectiva multicultural,<br />

pois aceitar que há diferenças de valores em curso não contemporiza os conflitos entre<br />

os consumidores de drogas e os contrários a esse consumo, não resolvendo os danos que<br />

podem ser causados pelas estigmatizações consequentes destes conflitos. O que aqui se<br />

configura se aproxima da perspectiva intercultural, no sentido de que os pontos de vista<br />

trazidos ao foco, além de ressaltarem as diferenças entre alguns valores culturalmente<br />

estabelecidos e outros estigmatizados, gera reflexividade e questionamentos em torno de<br />

algumas normatizações representacionais correspondentes. Essa postura metodológica,<br />

muito mais do que uma demanda relacionada ao manancial teórico do pesquisador, é<br />

consequência do desdobramento dinâmico da pesquisa, ou seja, do que o pesquisador<br />

pensa que os interlocutores pensam.<br />

Seguindo este raciocínio, a ferramenta hermenêutica adotada permite enfatizar que se<br />

os interlocutores afirmam não classificar estigmatizadamente outras pessoas que são<br />

contrárias ao consumo de drogas – ao contrário de muitos que os estigmatizam<br />

exatamente por serem consumidores -, é com esse dado que se deve trabalhar. Muito<br />

mais do que averiguar se os interlocutores dizem a verdade ou não, me interesso em<br />

interpretar como essa representação sustentada reflete seus estilos de vida, estilos nos<br />

quais pode ser emblemático - ou não! - classificar seus pares pelos seus consumos.<br />

Como? Nesse processo, disponho de alguns recursos teóricometodológicos que a<br />

certos modos de olhar, podem refletir como emanações de uma perspectiva eclética 7 . No<br />

entanto, insisto nesse modo de construção, ressaltando que se deve considerá-lo muito<br />

menos como uma perspectiva eclética e muito mais como uma perspectiva de síntese.<br />

Qual a diferença? A diferença é que com o recorte eclético se busca aglomerar as<br />

diferenças – antes tidas como excludentes - numa sobreposição das partes, como se o<br />

todo das pessoas envolvidas pudesse falar através de uma única voz, a voz do<br />

pesquisador. Já o recorte com perspectiva de síntese busca a construção dialógica entre<br />

as diferentes vozes dos pesquisados e do pesquisador, estando mais próximo de um rap<br />

polifônico do que de um coral monofônico. Inevitavelmente ainda será através da voz<br />

do pesquisador que os pesquisados irão falar, mas nesse caso ficará muito mais explícito<br />

quando for o pesquisador que estiver falando através dos pesquisados. Daí que neste<br />

texto os interlocutores têm espaço para dizer muito mais do que sim ou não e<br />

oportunidade para serem mais do que números que confirmam ou negam estatísticas.<br />

7 - me refiro a uma interpretação que foi feita por um colega em relação à construção teóricometodológica<br />

da primeira parte deste projeto.<br />

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