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Tese 8 - Neip

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dessa imersão na cultura nativa se concretizar integralmente. O que se faz fundamental é<br />

acreditar na possibilidade de dialogar com estes nativos, sem desconsiderar os sotaques<br />

e os vícios de linguagem...<br />

Para que a interpretação não se resuma a um relativismo extremo – um possível<br />

olhar etnocêntrico do pesquisador - é preciso assegurar que o intérprete saiba-se<br />

interprete. Assim, interpretar não é simplesmente se aproximar do que soe familiar, pois<br />

o que é familiar não gera necessariamente um conhecimento dado. Interpretar deve ser<br />

buscar se distanciar, se alienar a familiaridade com o familiar para melhor observá-lo.<br />

Esta abordagem hermenêutica ao reconhecer que configurativamente, pesquisador e<br />

pesquisados podem ser da mesma natureza, não resume minha perspectiva a<br />

socioantropologia, pelo contrário, abre o leque para uma aproximação com a filosofia.<br />

Num rico debate com Richard Rorty sobre relativismo (Souza: 2005), Jurgen Habermas<br />

traz à tona algumas idéias de Dilthey. Para este último, os interpretes fazem parte de<br />

contextos, assim muitas vezes tendendo a não registrar o posicionamento original em<br />

campo dos objetos interpretados. Se Dilthey concebe um interprete como um<br />

participante da história interpretada, esta é a situação na qual me encontro. Ele defende<br />

em sua formulação, de acordo com Habermas, que “As interpretações podem ser<br />

profundas ou superficiais, mas não verdadeiras ou falsas” (Souza:2005, 67), na medida<br />

em que não é mais A Verdade que está em jogo, e sim contextos, onde, no ponto de<br />

vista de Rorty, algumas interpretações podem ser mais autênticas – o que os nativos<br />

tendem a interpretar como mais verdadeiras - do que outras. No curso da cultura de<br />

consumo, esta proposta interpretativa encontra eco na medida que rortyanamente “a<br />

função reveladora do mundo tornou-se reflexiva” (Souza:2005, 75) havendo contextos<br />

variados para diferentes verdades. No presente estudo, não é difícil perceber que tanto<br />

os consumidores de drogas como aqueles que os discriminam, se mostram convictos de<br />

suas verdades e estão dispostos a prová-las ao outro. Como pesquisador, a aporia entre<br />

estas duas verdades é a verdade que posso e devo pesquisar.<br />

Indo além no diálogo filosófico, Rorty por sua vez cogita a respeito da<br />

adequabilidade do melhor argumento para uma específica audiência, uma específica<br />

comunidade, adequabilidade que caracteriza a substituição estratégica da verdade única<br />

por uma racionalidade que não tem como fundação as argumentações universalizáveis, e<br />

que se configura através de conexões sentimentais, de vínculos de confiança 134 . Rorty<br />

134 - nessa proposta rortyana, diferentemente da habermasiana, é preferível pensar em comunidades ao<br />

invés de Comunidade.<br />

136

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