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Tese 8 - Neip

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acadêmica, mas em meio ao contexto mais amplo da sociedade, explicitando o que foi<br />

viver num momento histórico de refluxo da noção de civilidade 48 .<br />

Em 1968, no dia primeiro de abril – não é brincadeira, verdade! –, o Brasil esteve<br />

muito adiante do famoso mês de maio francês no que diz respeito ao papel do estudante<br />

universitário enquanto agente produtor de conhecimento e de mudança social. Este<br />

pioneirismo se configurou pelo momento histórico brasileiro, no qual a democracia era<br />

muito menos uma referência concreta do que simbólica. No correr daquele ano, o<br />

Estado brasileiro deixou a perspectiva dialógica de lado e passou a usar frequentemente<br />

a força física contra os universitários:<br />

“As agitações estudantis se alastraram por quase todo o país. Em Fortaleza,<br />

o Serviço de Informações dos Estados Unidos, o USIS, era destruído por<br />

manifestantes; em Recife, 2 mil universitários realizaram uma passeata<br />

proibida; em Belém, estudantes eram retirados à força da universidade,<br />

fechada pelo reitor; em Natal, uma greve paralisa todas as faculdades; em<br />

Maceió, protestos; na Bahia, um estudante ferido por um policial revolta a<br />

população; em Brasília, a universidade permanecia ocupada pelos<br />

estudantes e cercada pela polícia; Em Minas, três estudantes eram baleados,<br />

um policial gravemente ferido por um paralepípedo e um carro oficial<br />

incendiado; Em São Luís, os muros amanheceram pichados: ‘O Brasil é um<br />

novo Vietnã’. Em Goiânia, um policial civil invadiu a catedral<br />

Metropolitana,onde se reuniam estudantes, e feriu a bala dois deles”<br />

(VENTURA: 2008 A,104).<br />

Hoje em dia os estudantes ocupam universidades protestando contra gestões<br />

duvidosas ou para assistir filmes arbitrariamente proibidos 49<br />

chegando a receber apoio<br />

da comunidade não acadêmica, mas quatro décadas atrás, as lutas eram bem mais<br />

sangrentas e menos populares. Apesar dos objetivos em questão abrangerem questões<br />

politicamente ligadas à liberdade do cidadão e não necessariamente do cidadão<br />

universitário, os protestos estudantis acabaram obtendo muito pouco apoio da população<br />

não universitária. O certo é que com quarenta e dois anos de distância de 1968, as lutas<br />

culturais passaram a ser incorporadas às problemáticas que as comunidades<br />

universitárias enfrentam, concomitantemente à busca por um patamar de valores mais<br />

democráticos. Pode-se cogitar que desses mais de quarenta anos, os vinte primeiros<br />

foram gastos para garantir a configuração de um setting minimamente democrático, e<br />

que assim, as lutas culturais levantadas pelos universitários - mas não só por estes -<br />

48 – Num processo totalitário quando as individualidades são submetidas a controles sociais rígidos as<br />

emoções individuais mais violentas já não podem ser sumariamente submetidas ao autocontrole<br />

psicológico, com o risco de eclodir episodicamente, o que leva o próprio processo civilizador ao risco de<br />

se desconfigurar. (ELIAS:1990).<br />

49 – como será analisado na página 104.<br />

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