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Tese 8 - Neip

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De acordo com Bourdieu (2008), boa parte do prestígio adquirido no campo<br />

acadêmico está relacionado ao tempo de atuação. É possível que o pouco tempo de<br />

atuação na área tenha influenciado a falta de “coragem” de Cibele, pois ela ensina a<br />

menos de 3 anos numa faculdade particular, e a medida de sua coragem pode ser<br />

proporcional à sua estabilidade no emprego e a seu status no mercado. Docentes com<br />

mais tempo de experiência desenvolveram mecanismos para evitar o contato com o<br />

específico discurso “careta” de alguns professores mencionados por Cibele, se<br />

mostrando mais dispostos a estreitar laços não com colegas, mas com alunos, o que<br />

necessariamente não os livra das “caretices”:<br />

Dioniso - Eu sei que tem alguns alunos meus que usam, mas eles são<br />

mais caretas que os professores, (risos) por mais que eles saibam que tem<br />

liberdade pra comentar comigo, porque eu saio com eles pra beber e tudo,<br />

mas eu acho que há um respeito pela figura do professor. Eu tento quebrar<br />

isso, mas eu nunca tive um aluno que tentasse. Não é muito comum esse<br />

discurso, um ou outro que a gente percebe pode fazer isso, mas não é uma<br />

prática comum.<br />

Talvez eles possam achar que eu use, mas compartilhar isso comigo, acho<br />

que pra eles pode levar a alguma questão tipo: não cumpri minhas<br />

obrigações enquanto aluno, e ele vai associar isso ao fato de eu usar. Então<br />

talvez eles se resguardem, no meu caso, e de alguns professores lá do<br />

campus. Eu acho que eles não têm essa imagem canônica do professor que<br />

não usa drogas. Se rolasse essa questão na sala de aula, eu me colocaria em<br />

cima da minha própria experiência. (VALENÇA:2005,125)<br />

Dioniso não indica claramente até que ponto sua distinção como professor facilitaria<br />

a aproximação dos alunos usuários, mas aponta que estes não abrem o jogo com ele<br />

com receio de que ele associe o consumo de maconha daqueles com sua baixa<br />

produtividade acadêmica. Mas de onde parte esta representação? Dos alunos que<br />

acreditam que alguém que fuma maconha possa ter tendência a desenvolver um baixo<br />

rendimento escolar, e na condição de usuários com baixo rendimento – o que poderia<br />

caracterizar , segundo Zinberg, o uso compulsivo - se sentem pouco confortáveis para se<br />

aproximar do professor no que diz respeito às drogas? Ou por outro lado, essa<br />

representação poderia ser originária do professor que percebe de alguma forma que o<br />

baixo rendimento escolar dos seus alunos pode ter a ver com o consumo de drogas, e<br />

acredita que eles não se aproximam com receio de que isso seja percebido?<br />

Possivelmente, para Dioniso e para outros docentes a resposta se encontra na<br />

configuração da relação e das representações que se estabelece entre as partes.<br />

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