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Tese 8 - Neip

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havendo um maior número de “mulheres drogadas”. Também é significativo que a<br />

matéria registre a representação de 59 professores como usuários de drogas – pois os<br />

consumos nas universidades não se limitam ao corpo discente – e principalmente, que o<br />

consumo “não está restrito a uma ou outra classe social”. Num exercício hermenêutico,<br />

aqui pode ser feita uma interpretação sobre a interpretação que o jornal fez sobre a<br />

pesquisa: a de que o consumo de drogas se dá entre pessoas de ambos os gêneros, sem<br />

que a distinção de classe seja vista como o determinante central do consumo que se dá<br />

não necessariamente entre grupos marginalizados, mas entre participantes de<br />

instituições acadêmicas. Com essa reconfiguração, estes dados podem ser interpretados<br />

como a indicação de que o habitus social do consumo de drogas na cultura universitária<br />

não pode ser mais representado como uma exceção às regras do processo civilizador,<br />

principalmente sendo a universidade por excelência, um campo de formação cultural<br />

civilizatório com status “superior”.<br />

Também é bastante significativa a afirmação por parte do próprio coordenador da<br />

pesquisa da UFF, de que esse consumo de drogas na academia “reflete a sociedade”.<br />

Sim, reflete. O que ainda não se sabe exatamente é como a sociedade reflete sobre esse<br />

consumo acadêmico, se é:<br />

1 – abraçando uma perspectiva que desconfia de que o olhar proibicionista ao invés<br />

de esclarecer, obscurece ainda mais a questão. Esta perspectiva é emblematicamente<br />

manifesta por quem esteve presente no setting onde foi realizada a pesquisa da UFF, e<br />

que relata qual era o clima psicológico fomentado pelos pesquisadores:<br />

“olha, eu estudei na UFF em 96 e foi realizada uma pesquisa muito<br />

parecida com esta, talvez seja a mesma ou realizada pelo mesmo professor.<br />

Gostaria de comentar que os resultados deste tipo de pesquisa devem ser<br />

vistos com cautela, pois os critérios de "escolha isenta e aleatória" de alunos<br />

dos campi não foram respeitados. Os pesquisadores procuravam entrevistar<br />

justamente os alunos considerados maconheiros e faziam perguntas<br />

capciosas - tipo: "você experimentaria heroína?", "Quantos amigos seus<br />

fumam maconha aqui?", dando a impressão de que se a resposta fosse<br />

afirmativa quanto à possibilidade seria arrolada na pesquisa como fato<br />

("declarou ter experimentado"), entendem? E como vocês podem ver nesta<br />

notícia, há todo um discurso contra a cannabis”. M.A.<br />

Esse depoimento deixa claro como a naturalização de representações proibicionistas<br />

pode trazer reflexos que comprometem os “olhares” emitidos pelas instituições de<br />

pesquisa – o que facilita a formulação de perguntas capciosas que direcionam as<br />

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