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Tese 8 - Neip

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especial em que, não tendo administrado com temperança seus consumos, o estudante<br />

prefere fechar os olhos para não enxergar nos outros o que não quer ver em si mesmo:<br />

Garrincha - Nos dois primeiros semestres eu não tive contato na faculdade com<br />

pessoas que usavam drogas, é lógico que eu sacava quem usava, mas não tinha nem<br />

conversa a respeito disso. Eu já vi algumas pessoas usando, vi algumas pessoas<br />

chegarem com cheiro de droga, mas não quis nem saber os nomes delas.<br />

Esse interlocutor que já foi usuário descontrolado de álcool, cocaína e crack estava<br />

num momento em que não queria coexistência com quem pudesse remetê-lo ao passado,<br />

até admitindo a coexistência à distância, mas não abrindo espaço para “conversa a<br />

respeito disso”. Ele prefere deixar o passado para trás, mas há quem acredite que trazer<br />

essa experiência polêmica para o presente pode ser não apenas catártico, mas<br />

sociologicamente viável e politicamente correto.<br />

Marley - Posso falar da minha experiência? Eu com 18 anos me envolvi com crack,<br />

fumei durante um ano e meio... desestruturou completamente a minha vida. Cheguei a<br />

sair de casa algumas vezes, brigas com minha mãe, cheguei a namorar uma garota de<br />

programa (sorrindo de modo constrangido) que era usuária também. Cheguei a andar<br />

com marginais que não faziam nada da vida, ficavam o tempo todo fora de casa.<br />

Marley depois de dois meses sem estudar e vivendo pelas ruas voltou para casa, e em<br />

seguida começou a fazer terapia. O fator decisivo que lhe fez mudar de atitude e buscar<br />

ajuda foi a vergonha que sentiu diante da mãe:<br />

T.V. - Como você fechou essa porta em sua vida?<br />

Marley - Primeiro acho que começou com a vergonha. Quando minha mãe descobriu<br />

eu fiquei com vergonha. Tinha vontade de não sair mais de casa, não ver mais<br />

ninguém, com vergonha do que eu tinha feito... e força de vontade, eu cheguei a sair de<br />

Salvador, minha mãe me ajudou bastante, a gente ficou um mês e meio afastado de todo<br />

mundo. Eu tomei remédio durante dois meses, remédio forte, tarja preta, pra a<br />

ansiedade, pra tirar a fissura da droga... tive algumas recaídas, não foi fácil parar ...<br />

mas hoje em dia eu tou livre disso há bastante tempo. Eu nunca mais pretendo usar<br />

nenhum outro tipo de droga sem ser maconha.<br />

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