Tese 8 - Neip
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entre o uso de maconha e o desvio social já não é mais adequada? Nessa perspectiva<br />
em que o proibicionismo vai deixando de ditar incondicionalmente o que é saudável ou<br />
não, já não soa contraditório que se faça um uso terapêutico da maconha 201 como<br />
ansiolítico, como redutor de ansiedade. E mais, os neurocientistas Renato Malcher-<br />
Lopes e Sidarta Ribeiro no livro Maconha, cérebro e saúde apontam que não é só como<br />
ansiolítico que a maconha vem sendo administrada, pois se pode até relacioná-la a um<br />
modo de uso antidepressor: “há evidencias de que certos usuários de maconha a<br />
utilizam como uma forma de automedicação contra depressão” 202 (Malcher-Lopes &<br />
Ribeiro: 2007,87). Indo além, Malcher-Lopes e Ribeiro efetuam uma investigação sobre<br />
os efeitos cerebrais e fisiológicos da maconha, desconstruindo algumas representações<br />
estabelecidas ao constatar que:<br />
“a maconha protagoniza uma verdadeira revolução, representando uma das<br />
mais promissoras fronteiras no desenvolvimento da neurobiologia e da<br />
medicina. A descoberta dos endocanabinóides, ou seja, moléculas análogas<br />
aos princípios ativos da maconha, mas produzidas pelo próprio cérebro, é a<br />
grande novidade por trás desta guinada científica.[...] Nesse início de século<br />
XXI, acredita-se que os canabinóides estejam envolvidos na remodelação<br />
dos circuitos neuronais, na extinção de memórias traumáticas, na formação<br />
de novas memórias e na proteção de neurônios. [...] A desregulação do<br />
sistema canabinóide pode estar envolvida nas causas da depressão,<br />
dependência psicológica, epilepsia, esquizofrenia e doença de Parkinson”<br />
”(MALCHER-LOPES & RIBEIRO:2007,8/9).<br />
Enfatizando o frescor destes dados, o potencial da maconha medicinal como fonte de<br />
canabinóides exógenos é maior do que tem sido divulgado, o que abre perspectivas de<br />
mercados licitamente lucrativos. A questão aqui posta é: que setores da sociedade vão<br />
poder consumir esse lucratividade? 203<br />
201 - mas numa perspectiva exclusivamente terapêutica, não recreativa. Segundo Carlini em entrevista a<br />
revista da FAPESP (O uso medicinal da maconha, 17/02/10), o CEBRID (Centro Brasileiro de Estudos<br />
sobre Drogas Psicotrópicas) pautou para maio de 2010 um simpósio internacional sobre maconha com o<br />
título de “Por uma agência brasileira da Cannabis medicinal?”, no qual será debatida a viabilidade da<br />
maconha terapêutica no Brasil. O primeiro passo nessa direção seria a criação de uma agência nacional da<br />
Cannabis ligada ao Ministério da Saúde, sem a qual a ONU não aprovaria investimentos em estudos<br />
desse porte com uma substância proibida. A análise sobre a manutenção da proibição do uso recreativo da<br />
maconha estaria fora da alçada dessa agência.<br />
202 - a anandamida, um canabinóide endógeno, inibe uma maior proliferação neuronal no hipocampo,<br />
proliferação que se especula estar diretamente conectada a incidencia de depressão (MALCHER-LOPES<br />
& RIBEIRO:2007,86).<br />
203 - de acordo com informações diretamente recebidas de um ativista estadunidense, há nos EUA poucos<br />
estudos sendo realizados com a planta integral em benefício de estudos com suas substâncias isoladas e<br />
puras. Assim, de acordo com o ponto de vista dos ativistas, são favorecidas pesquisas sobre os<br />
cannabinóides naturais e sintéticos que podem ser produzidos por laboratórios - abordagem compatível<br />
com os interesses da "Big Pharma" (os poderosos conglomerados que dirigem a indústria farmacêutica) -<br />
e não sobre a maconha como planta que pode ser fumada – o que interessaria aos usuários recreativos e<br />
aos autocultivadores.<br />
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