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Tese 8 - Neip

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posteriormente vender as imagens ou chantageá-los 126 . Já aos olhos de um público mais<br />

específico que em razão de seus próprios consumos de psicoativos e sua estigmatização,<br />

tende a ser mais reservado ou cuidadoso em relação ao grande grupo de não usuários, a<br />

reflexividade propiciada pelo consumo descontrolado por parte de celebridades tem<br />

potencial para tocá-los profundamente. Ao encontrarem familiaridade no modelo<br />

exótico de consumo adotado por estes últimos, os primeiros encontram segurança<br />

ontológica onde antes só parecia haver o risco de uma liberdade estigmatizante:<br />

“O que os ávidos espectadores esperam das confissões públicas das pessoas<br />

na ribalta é a confirmação de que sua própria solidão não é apenas tolerável,<br />

mas com alguma habilidade e sorte pode dar bons frutos. Mas o que os<br />

espectadores que se deleitam com as confissões das celebridades recebem<br />

como primeira recompensa é a sensação de fazer parte: o que lhes é<br />

prometido todo dia (“a quase qualquer momento”) é uma comunidade de<br />

solitários” (BAUMAN: 2003,64).<br />

Nesse recorte, Amy, Britney e cia, configuram uma comunidade de celebridades<br />

“especialistas em intemperança”, que simbolicamente pode favorecer que solitários<br />

usuários se sintam mais próximos de fazer parte de um setting comunitário. Estas<br />

celebridades estabelecem um modelo de consumo com valores outsider que sinalizam a<br />

liberdade de escolha acima da segurança da escolha. “lidar com o excesso é o que passa,<br />

na modernidade tardia, por liberdade individual”, (Bauman:2003, 119). O que está em<br />

jogo é a possibilidade de atingir a liberdade individual por intermédio de uma certa<br />

“espiritualidade hedonista”, na qual o descontrole controlado, a intemperança<br />

temperada, represente um capital de risco de primeira grandeza - quanto maior o risco,<br />

maior o capital.<br />

Em tal perspectiva de consumo nada mais deve ser proibido como o “mal em si”,<br />

mas sim consumido com uma margem de segurança adequada sob medida ao<br />

contexto 127 . No caso do consumo de drogas destas celebridades, o banner: com risco é<br />

mais gostoso está autorizado a piscar em luzes tridimensionais no lugar do proibido é<br />

mais gostoso. O diferencial desta perspectiva em relação ao hedonismo descontrolado<br />

dos anos 1960 é que no presente caso, opera um princípio de redução de riscos em que<br />

se pode e se deve abraçar controles formais e informais se preciso, por exemplo:<br />

entrando e saindo de clínicas de reabilitação e contando com o apoio afetivo da família<br />

126 - Polícia prende homem que filmou Amy Winehouse usando crack (Folhaonline, 12/12/08), Paparazzi<br />

são acusados de dar drogas a Heath Ledger – (Terraonline,12/04/08).<br />

127 - e isto obviamente não se restringe às drogas, mas a todos os capitais culturais disponibilizáveis,<br />

como comida ou sexo por exemplo.<br />

117

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