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Tese 8 - Neip

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T.V. - Você teria interesse em falar publicamente de sua experiência?<br />

Marley - Sim, pode ser muito útil pra algumas pessoas porque minha experiência de<br />

vida não foi fácil, e é um exemplo que deve ser ouvido e não deve ser seguido.<br />

T.V. - Você não se incomodaria se outras pessoas, que seus colegas soubessem?<br />

Marley - Não, eu não me incomodaria.<br />

T.V. - As pessoas vêem o usuário de crack com certo preconceito, isso não lhe<br />

incomoda?<br />

Marley - Não me incomoda porque eu não pertenço mais a esse grupo. A experiência<br />

que eu passei eu gosto de passar pras pessoas porque eu acho que... essa vida ninguém<br />

deve viver.”<br />

Deixando cair o receio inicial de expor uma situação delicada, Marley mostra nessa<br />

fala catártica que a vergonha já foi superada. Se assim não o fosse, dificilmente ele<br />

afirmaria que ainda fuma maconha, o que implica em que seja esta uma droga sobre a<br />

qual ele pode supor exercer controle no consumo. Sua estrutura de vida está agora<br />

baseada na sua carreira de universitário e não na sua carreira de usuário. Sendo uma<br />

pessoa muito jovem, Marley demonstra uma capacidade de elaboração sobre uma<br />

situação delicada que passa ao largo da vergonha, diferentemente de Garrincha.<br />

Garrincha - Na medida em que o uso ia progredindo as companhias iam sumindo.<br />

Até porque aquele pessoal com quem eu costumava fumar maconha antes, eu mesmo<br />

tinha vergonha deles, de mostrar o meu uso de drogas como é que tava. Aquela galera<br />

que fumava um, tomava uma cervejinha e voltava pra casa, pra mim já não dava mais,<br />

porque pra mim não tava suficiente.<br />

T.V. - Durante quanto tempo você levou este estilo de vida?<br />

Garrincha - Uns 10 anos eu acho.<br />

A vergonha de Garrincha acaba se manifestando de modo mais complexo que a<br />

vergonha apresentada por Marley, pois está configurada não exclusivamente em relação<br />

aos parentes, mas também em relação aos usuários que manifestavam um maior<br />

controle sobre seus consumos. A vergonha é um mecanismo de controle social informal<br />

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