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Tese 8 - Neip

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Um dos aspectos que aqui pode ser levantado é que os interlocutores salientam suas<br />

necessidades de uma visão de mundo transcendente, porém, sem vinculação com<br />

dogmatizações estabelecidamente institucionalizadas. Cada um busca configurar uma<br />

interpretação que reencanta tanto a maconha quanto os cogumelos, tratando-os como<br />

entidades – embora Pancho o negue - com as quais podem entrar em relação direta.<br />

Uma outra questão passível de leitura é que estas falas indicam que seus sujeitos<br />

correspondentes não são pessoas niilistas, distantes de valores socialmente construtivos.<br />

Pelo contrário, os três mostram manter vínculos com o discurso ecológico de resgate do<br />

encantamento com a Natureza, como no movimento contracultural dos anos 60/70. A<br />

fala de Rimbaud a seguir exemplifica a incorporação de alguns referenciais da<br />

contracultura reflexivamente ressignificados pelo seu repertório de valores:<br />

T.V. - Você busca transcendência quando consome?<br />

Rimbaud - Quando eu usei o ácido pela primeira vez, foi nesse nível, não algo<br />

espiritual, é mais sensorial mesmo, ó como minha visão pode ser diferente. Mas isso eu<br />

já vinha percebendo na embriaguez porque o álcool foi a droga que eu tive maior<br />

contato. Nenhuma outra droga vai se comparar aos vários estágios que a bebida me<br />

levou, até a onda de chorar, a maior deprê, ou então de ficar eufórico. O ácido foi<br />

outra coisa, também tinha lido Timothy Leary, Aldous Huxley (As portas da percepção),<br />

escutado The Doors, e você fica: ‘será velho, será que eu vou captar?’ Tem um pouco<br />

desse lado espiritual. Comprei “Paraísos artificiais” por causa da onda. Eu tento<br />

destruir o que é mitológico sobre a onda.<br />

Para tentar “destruir o que é mitológico sobre a onda”, Rimbaud perpetua uma<br />

retroalimentação entre drogas e cultura; consome personagens consagrados no que se<br />

refere à cultura das drogas: Baudaleire, Huxley, Leary e a banda The Doors, consumo<br />

que por sua vez o motiva a consumir substâncias psicoativas variadas, substâncias que<br />

o remetem aos mitos construídos em torno das obras artísticas consumidas. Nesse<br />

processo cíclico não estaria ele buscando configurar um novo encantamento para<br />

objetos de consumo culturalmente superestimados? A superestimação de um bem<br />

cultural ao lhe possibilitar infinitas representações adequadas a distintas configurações,<br />

desconstrói um valor absoluto abrindo espaço para novas significações e é nessa esteira<br />

que parece seguir a reflexão de Rimbaud. Outros interlocutores, quando as<br />

configurações de consumo em relação a um objeto passam a ter seus sentidos<br />

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