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Tese 8 - Neip

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descompromisso com uma questão que lhes é diretamente pertinente é um dado bastante<br />

significativo no que diz respeito à percepção que este grupo formula da redução de<br />

riscos, pois no meu ponto de vista, eles não são apenas “objetos” de estudo, são uma<br />

comunidade que através da pesquisa poderia obter uma circulação de informações<br />

diretamente relacionada com suas demandas. Obviamente, este é apenas o meu ponto de<br />

vista.<br />

Em meio a essas resistências, reformulei minha postura e retornei ao campo<br />

procurando estabelecer contato com pessoas que eu já sabia, por intermédio da minha<br />

própria rede de relações, que eram usuárias, me fazendo valer, de modo aproximado, de<br />

uma reflexão de Gilberto Velho: “transformei parte significativa de minha rede de<br />

relações sociais em objeto de pesquisa, em um movimento heterodoxo para os padrões<br />

tradicionais da antropologia”, (2003:15). Nas circunstâncias em que me encontrava,<br />

operar um “movimento heterodoxo” na construção do sujeito de estudo se mostrou uma<br />

estratégia enriquecedora, pois a suposta proximidade entre o pesquisador e o<br />

pesquisado, muito mais do que me fazer perder o distanciamento crítico, me fez poder<br />

corroborar as narrativas apresentadas, com as biografias às quais eu tinha algum acesso.<br />

Assim operando, merece ser salientado que um procedimento de pesquisa em<br />

ciências humanas – talvez mais do que em outras áreas, ou pelo menos de modo<br />

diferente destas - deve ser cercado de cuidados para que não se torne uma redução<br />

processual no que diz respeito à polarizada relação pesquisador/pesquisado. Dito de<br />

outro modo, nem sempre que eu penso que sei o que os sujeitos pesquisados pensam,<br />

encontro equivalência no que eles pensam que eu devo pensar sobre eles. Esta<br />

constatação foi realizada na primeira oportunidade em que apresentei resultados parciais<br />

da pesquisa 99 em um encontro nacional de pesquisadores, situação em que dois dos<br />

meus interlocutores que estavam presentes, se mostraram contrariados com o material<br />

trazido à baila. Em suas opiniões, suas identidades foram expostas - mesmo que com<br />

pseudônimos -, de forma que eles me criticaram por isso.<br />

No meu ponto de vista, fiquei surpreso com a reação, pois os dados que precipitaram<br />

a tensão dos interlocutores foram posteriores não só à nossa específica interlocução em<br />

campo como também foram posteriores à própria construção do texto. De modo mais<br />

preciso, estes dados estavam em relação direta com a polêmica proibição da Marcha da<br />

Maconha que colocou ambos os interlocutores no “olho do furacão”, já que estavam<br />

99 - pois acreditei que o feedback dos interlocutores poderia enriquecer os resultados finais.<br />

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