06.04.2015 Views

Tese 8 - Neip

Tese 8 - Neip

Tese 8 - Neip

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

que meu pai conta que ele fez, a memória que ele passa pra mim eu consumo, me<br />

interessa e forma meu modo de ver e de pensar. Eu comecei a me distanciar de pai<br />

quando eu conheci o reggae, que meu pai não gosta. Aí rolou uma independência<br />

mesmo.<br />

Seria simplório e inadequado constatar que a independência à qual Rimbaud se<br />

refere, se deva ao dado de seu pai gostar mais de rock do que reggae enquanto música.<br />

Essa divergência estética talvez indique que estes gêneros musicais com seus settings<br />

característicos, se podem até “andar juntos”, não são necessariamente os mesmos; o<br />

rock enquanto representação cultural tende a ser configurado enquanto celebração de<br />

uma desconstrução em relação aos valores estabelecidos, sendo de modo geral, uma<br />

sonoridade mais agressiva. Já o reggae tende a ser representado como celebração de<br />

uma construção que busca transcender o estabelecido, mas não agredindo, e sim<br />

chamando para a confraternização. Embora haja um público que consuma os dois<br />

gêneros musicais, há representações diferenciadas enquanto capitais culturais<br />

consumidos por tribos que se distinguem exatamente pela reflexividade presente em<br />

seus gostos e não só em relação a drogas. Entre variados capitais; música, livros, e<br />

também filmes podem, delimitar este recorte identitário:<br />

Rimbaud - Outro dia eu tava discutindo Cheech e Chong que é da época de meu<br />

pai e ele gosta daquela porra. Eu assisto, dou risada, mas eu acho que é onda de<br />

doidão. Os Caras fizeram seu papel naquela época.<br />

Personagens que estrelaram alguns filmes hoje cultuados, Cheech e Chong são dois<br />

outsiders maconheiros que se metem em muitas confusões por causa de seu consumo<br />

descontrolado da erva 161 . O que Rimbaud indica na sua crítica desses personagens é que<br />

ele busca a superação do mito de doidão e quem sabe, do mito de usuário hippie<br />

representado pelo passado no pai. Depois de ter sido detido pela polícia, Rimbaud não<br />

quer ser enquadrado como um desqualificado, um maconheiro doidão, principalmente<br />

aos olhos do pai. Esse também é um ponto central para uma interlocutora que tem uma<br />

boa relação com o pai – o representante do sistema especialista - sobre a questão do<br />

consumo.<br />

161 - personagens apreciados pelo interlocutor Marley (22), dois anos mais jovem do que Rimbaud (24).<br />

180

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!