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Tese 8 - Neip

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perguntou: que cheiro é esse? Eu falei: é incenso. Aí ele desce e vai lá pra<br />

baixo, aí os coleguinhas perguntam: ‘que cheiro é esse?’ É incenso, é da<br />

minha casa, ai o mais velho me questionou: por que eu menti, que não era<br />

incenso coisa nenhuma, que ele sabia que era maconha, e por que eu tinha<br />

mentido, eu disse: ‘como você sabe’? Aí ele disse: ‘você mesma já me disse,<br />

(risos de Hécate) eu tenho medo, não quero que você fume mais aqui, me<br />

prometa’... aí ele começou a chorar, ‘me prometa, pelo menos aqui não,<br />

porque todo mundo lá sabe, as pessoas falaram que era maconha e eu tenho<br />

medo que você seja presa’. Eu prometi que eu não fumo lá, (risos) pelo<br />

menos quando ele estiver (risos). Eu fumo constrangida achando que eu tô<br />

expondo mesmo. (VALENÇA:2005, 182/3)<br />

Numa flexibilização de papéis, se por um lado Hécate parece que com o casamento se<br />

livrou da pressão exercida pelos pais, por outro lado, com a maternidade passou a<br />

sofrer a pressão dos filhos. A pressão já não era sentida enquanto filha, era sentida<br />

enquanto mãe, na verdade sendo mesmo duplicada, porque além de mãe Hécate é uma<br />

educadora por profissão. Nesse caso a questão que pesou na balança foi cumprir sua<br />

promessa para o filho e não fumar ou mentir e manter seu prazer. Mas Hécate não é a<br />

única interlocutora que atua sob tais pressões:<br />

Nêmesis - Meu filho já experimentou maconha, ele não é um fumante,<br />

mas já experimentou e ele tem 18 anos. Tabaco de jeito nenhum! De jeito<br />

nenhum! A minha relação com ele é muito tranquila. Quando ele tinha 10,<br />

11 anos ele aceitava até mais do que hoje. O choque dele era como abrir<br />

pros amigos que tinha uma mãe que consumia drogas, a mãe e o pai. Ele<br />

chegou a dizer pra mim: ‘sabe qual é o seu problema? É que você fuma’, um<br />

dia ele brigando comigo ele disse isso. ‘Sabe qual é o problema de meu pai?<br />

É que ele fuma’. Agora já tá muito mais tranquilo, mas quando eu ouvi isso<br />

a minha rebeldia, que eu sou uma pessoa rebelde, bateu. Eu não acredito que<br />

meu filho tá dizendo isso, né? Se ele vê isso como uma coisa negativa... a<br />

gente (eu e o pai) já chegou a conversar com ele. Eu disse: ‘sabe qual é o seu<br />

problema? É que você é careta’ (risos). Não tô fazendo apologia às drogas,<br />

mas cê vê que é um pouco isso. Pra você ver que era o momento também.<br />

Quando ele chegava da escola, quando ele era menor, ele não queria ver o<br />

cheiro, ele dizia: apaga, apaga, apaga, meus amigos estão chegando. Ele<br />

fazia um pouco o avião entre eu e o pai, ele levava maconha pro pai.<br />

T.V. - Você se sentia culpada?<br />

Nêmesis - Nunca me senti culpada, nunca, nunca, porque era uma coisa<br />

muito aberta. Não teve essa de ah, eu não devo fumar, de jeito nenhum. Eu<br />

já soube que ele experimentou, eu falei: ‘você pegou da minha’, ele falou:<br />

‘eu comprei pra fumar com meus amigos, não peguei da sua’ (risos).<br />

Como eu agiria em relação a meu filho se ele tivesse acesso a ácido?<br />

Sabe que eu não sei... Sabe como eu agiria? Eu sou uma mãe tradicional. Eu<br />

sou tão aberta num sentido, mas eu sou caretérrima. O dia que ele falou que<br />

tinha bebido eu virei a fera, (foi quando ele ia fazer 17 anos). Eu gritava: ‘de<br />

jeito nenhum. Só quando você tiver 18 anos e tudo mais’.<br />

(VALENÇA:2005,184)<br />

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