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Tese 8 - Neip

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2.5 - Meu nome não é Junkie<br />

Nos dias de hoje, será que refletir sobre as possibilidades de um estigma vir a gerar<br />

status positivo 124 , ainda causa estranhamento? Levando em conta que uma das<br />

principais estratégias da cultura de consumo é naturalizar a sedução pela novidade<br />

aparentemente infinita, a “repetida multiplicação das escolhas que torna possível a<br />

abundância” (Lipovetsky: 2006, 2), refletir sobre a ressignificação de certos estigmas<br />

como concretização emblemática da liberdade de escolha vem se tornando cada vez<br />

mais plausível. No cenário internacional de celebridades da cultura pop contemporânea,<br />

Amy Winehouse, Britney Spears e Lindsay Lohan passaram boa parte dos anos de 2007<br />

e 2008 sendo manchetes, em grande medida, por seus envolvimentos com drogas. Estas<br />

manchetes geraram reflexividade sobre os motivos que levam jovens bem sucedidas e<br />

ricas a perder o controle sobre seus consumos – no caso de Britney Spears, em função<br />

do descontrole intensamente midiatizado, houve a perda da guarda dos filhos. É passível<br />

de constatação que se estas celebridades tiveram suas imagens públicas criticadas como<br />

politicamente incorretas já que “potencialmente são exemplos” para um público<br />

consumidor jovem, por outro lado, suas representações públicas ganharam mais<br />

projeção, mantendo-as na pauta do dia com as inquestionáveis expectativas: será que<br />

elas ainda são tão boas como artistas ou as drogas são o ponto de decadência de suas<br />

carreiras? Será que essas celebridades são vítimas do sucesso ou estão aproveitando<br />

intensamente la vida loca? Será que realmente perderam o controle, ou será que essa<br />

perda de controle midiatizada faz parte da celebração de suas representações?<br />

Aos olhos do grande público que consumiu vários escândalos enquanto informação, o<br />

hedonismo dessas estrelas tem gerado uma espetacularização glamourosa do consumo<br />

de drogas, às vezes de modo bem irônico. A imagem de Amy Winehouse 125 pareceu<br />

ganhar sobrevidas; quando ela entrou e saiu de clínicas de reabilitação, quando surgiu<br />

um vídeo no Youtube onde ela aparece consumindo crack ou quando agrediu algum fã.<br />

Em sensacionalismo extremo, alguns jornalistas chegaram a oferecer drogas a<br />

Winehouse e ao ator Heath Ledger – morto algum tempo depois por overdose acidental<br />

de medicamentos ou tecnicamente, suicídio acidental - para filmá-los em consumo e<br />

124 - sim, porque o estigma nada mais é do que um status negativo (Goffman: 1988).<br />

125 - Amy que não apenas tem um sobrenome sugestivo (Winehouse pode ser traduzido como Casa do<br />

vinho), mas que também se tornou famosa cantando “rehab”, forma abreviada para se referir aos centros<br />

de reabilitação para usuários de drogas (drug rehabilitation).<br />

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