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Tese 8 - Neip

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Salomé que fez sua escolha entre dois amantes – ao invés de deixar que eles a<br />

escolhessem, como esperava o amante preterido - para desfrutar a psicodélica “onda do<br />

amor”, mostra que ela sob efeito do ácido não se deixou levar pelo setting de forma<br />

acrítica – não ficando com o primeiro por ser o primeiro que apareceu – nem perdeu<br />

seus controles informais a ponto de poder relembrar confortavelmente que suas<br />

“percepções ficaram supersensibilizadas” sem que isso lhe constrangesse por ter podido<br />

ter cometido excessos em público. Refletindo em torno desses dados é possível cogitar<br />

que se a população masculina pesquisada é muito maior, não quer dizer que as mulheres<br />

sejam menos reflexivas ou que se submetam a uma reflexividade imposta pelo ponto de<br />

vista masculino quando envolvem controle de afetos e consumo de drogas. As emoções<br />

masculinas ligadas a consumo de drogas e sexualidade de forma geral são até mais<br />

ambivalentes:<br />

T.V. - Nesse período crítico como foi sua vida afetiva e sexual?<br />

Garrincha - Quando o uso da cocaína era menor não atrapalhava, porém na medida<br />

em que ele foi aumentando, aí começou a não haver mais (vida sexual), a verdade é<br />

essa. Depois o sexo se tornou um prazer não tão grande quanto a necessidade do uso<br />

da droga. Antes eu saia com garotas de programa, mas recentemente uma pessoa com<br />

quem me relacionei fez uma crítica a isso. Eu usava com garotas de programa, mas<br />

chegou um ponto que meu uso ficou tão escroto que se uma garota dessas me visse na<br />

rua saia correndo.<br />

T.V. - E agora como está o desejo?<br />

Garrincha - Depois que eu descobri o sexo sem o uso de drogas, comparar o sexo<br />

como o uso e sem o uso não tem comparação!<br />

Marley - Já com crack a pessoa não consegue... eu pelo menos não conseguia ter<br />

relação sexual, no momento e durante um bom tempo depois. Não dava ereção, não<br />

dava interesse. Cê só pensava na droga, só queria saber da droga.<br />

Diante do que estes dois interlocutores dizem, em relação ao crack e a sexualidade<br />

não há aporia, é um ou outro! Ou se troca o outro pela substância e aceita-se esse limite<br />

ou se abre mão da substância para estar em contato com o outro. Para Garrincha e<br />

Marley a dificuldade de articular uma interface entre o consumo controlado de crack e<br />

um setting que não seja o do seu consumo soa quase incontornável, tanto que a solução<br />

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