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Tese 8 - Neip

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A situação socioeconômica da maioria da população jovem não permite que a escola<br />

tenha a devida centralidade e muito menos exclusividade como espaço formador:<br />

“Poder estudar ou só se dedicar ao estudo é citado por 26% dos jovens, um pouco mais<br />

pelos adolescentes e pelas mulheres, e cresce com a escolaridade, chegando a 38% entre<br />

os jovens com formação universitária” (2008, 57), Dito de outra forma, a carreira de<br />

estudante encontra centralidade exatamente entre os jovens que já possuem uma<br />

carreira, o que de certa forma implica em que “alguém” banque essa carreira, e na<br />

maioria dos casos esse “alguém” é a família. Desse modo, o chamado jovem de origem<br />

burguesa busca independência sociocultural, mas não necessariamente independência<br />

econômica. Nesse caso, o trabalho muito mais do que um meio para atingir o autosustento,<br />

é um dispositivo com potencial para elevar o capital cultural 62 e o status. Esta<br />

questão merece atenção e se configura na tensão entre a necessidade de produção para<br />

obter segurança e a busca por liberdade e distinção: “na faixa de renda mais alta (mais<br />

de cinco salários mínimos), o trabalho como fator de independência (29%) supera a<br />

citação de trabalho como necessidade (24%)”, (Abramo: 2008, 54). Assim sendo, o<br />

trabalho pode vir a favorecer a independência de quem anteriormente já investiu na<br />

independência cultural.<br />

Mas o capital cultural do qual pode dispor a juventude contemporânea não se limita a<br />

ressignificações do trabalho e do estudo, pois, no tempo tradicionalmente reservado<br />

para atividades de descanso - os fins de semana - é quando mais os jovens se<br />

predispõem a dinamizar a sociabilidade, o que na maioria dos casos quer dizer diversão:<br />

78% indicam atividades processadas fora de casa, sendo a maioria delas (45%) de lazer<br />

e entretenimento, (Abramo: 2008, 54). O foco aqui não reside mais na inversão<br />

“sessentista” fins de semana durante a semana, mas sim na formatação estabelecida<br />

como tradicional, o que indica que transgressão não é a moeda mais forte desse recorte<br />

de juventude, mas sim a interpenetração possível entre padrões e valores antes<br />

antagônicos. E nessa perspectiva, é possível perceber que “O interesse por cultura e<br />

lazer [...] cresce um pouco com a escolaridade: é citado por 24% entre os que têm<br />

menor escolaridade e por 33% entre os que têm nível superior” (Abramo: 2008, 63).<br />

62 - o capital cultural é dimensionado por um conjunto de estratégias, valores e disposições relacionados<br />

ao consumo de bens - consumo de uma música, de um filme, roupa, comida ou droga - que indicam um<br />

grau de distinção e poder em grupos nos quais tais consumos são desejados de modo correntes,<br />

(Bourdieu,1992). Por exemplo, pessoas financeiramente pobres consumidoras de telenovelas podem<br />

adquirir disposição para sustentar capitais culturais oriundos das classes média e alta - o carro ideal é<br />

uma Ferrari, o corpo ideal é siliconado e lipoaspirado - mesmo sem dinheiro para materializar tais<br />

consumos.<br />

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