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Tese 8 - Neip

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se o hedonismo prudente, ‘limpo’ e vagamente triste.” (Lipovetsky: 2005,193). Esse<br />

modelo aporístico de hedonismo que não exclui a redução de riscos, até propicia um<br />

equilíbrio sedutor e consumível entre segurança e liberdade, ou melhor, favorece o<br />

consumo de liberdade com margens de segurança. Eis a fórmula da felicidade!<br />

Se nesse reencantamento do cotidiano há uma quase obrigação moral de consumir<br />

felicidade, uma cultura universitária onde se considere a política de vida dos seus<br />

integrantes, não está tão na contramão da história. Em uma cultura alicerçada pela<br />

informação, as infinitas e sedutoras opções de consumo encontram na reflexiva<br />

comunidade universitária um canal de receptividade com potencial para favorecer<br />

escolhas que podem ser mais ou menos edificantes na distinção entre múltiplos capitais<br />

culturais – que por sua vez podem ser mais ou menos hedonistas, de acordo com as<br />

perspectivas de consumir doses de felicidade, seja optando por um cigarro, um copo ou<br />

um comprimido.<br />

O reencantamento que acompanha esse consumo hedonista nas comunidades<br />

universitárias favorece uma postura reflexiva em torno das informações sobre drogas e<br />

passa pela ressignificação da representação dos especialistas tradicionais – nesse setting<br />

representados pelos docentes - pois estes, não só como formadores de opinião, mas<br />

como formadores de conduta, têm em suas mãos: “um entrelaçamento articulado de<br />

redes globais e locais de estruturas de informação e comunicação” (Beck, Giddens &<br />

Lash:1997,147). E é refletindo sobre esse sistema especialista que um dos interlocutores<br />

busca definir seu modelo de hedonismo racional e temperado:<br />

Pancho Villa - Quando eu era garoto li um livro que falava de várias drogas e pra<br />

mim chamou muito a atenção que dizia que maconha era uma droga que não causava<br />

overdose, e eu pensei: que porra é essa? Isso instigou várias coisas e desde então eu<br />

comecei a ler tudo sobre maconha. Na sequência descobri que os amigos no prédio<br />

fumavam e as primeiras vezes que fumei pensei: o efeito é muito bom, bom pra caralho!<br />

Descobri que falavam mal de uma coisa que não fazia mal. Me senti na obrigação de me<br />

colocar como usuário e defender contra alguém que falava mal, que eu sabia que era<br />

mentira. Eu sempre li muito, eu sempre fui da turma o excêntrico, quando eu passei a<br />

fumar passei a ser o que defendia a maconha.<br />

Pancho, em sua condição de usuário universitário, se sente devidamente<br />

instrumentalizado para abraçar a representação de um estudioso que se especializa em<br />

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