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Tese 8 - Neip

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perto o calor do show, com a exceção do professor. Duas músicas e um baseado depois,<br />

com um copo de cerveja na mão e outros já consumidos, não é que o professor mais<br />

cauteloso aparece perguntando se sobrou “alguma coisa”, ao que todos riem e entre<br />

estes, alguém responde: “é claro! Só tava faltando você para acender!”.<br />

Em algum momento, ao me distanciar fisicamente do grupo de usuários<br />

imediatamente próximo para criar alguma familiaridade com o grupo maior presente ao<br />

show, percebi que o restante da platéia não parecia estar muito preocupado com<br />

situações como esta com a qual se preocupavam meus interlocutores. Na prática e sem<br />

maiores planejamentos, estes últimos acabaram configurando uma ZAT – Zona<br />

Autônoma Temporária (Bey, 2001 149 ) -, onde havia um acordo tácito para consumir o<br />

descontrole controlado. Com a arquibancada cheia, durante os noventa minutos de show<br />

pude contabilizar doze baseados sendo consumidos aqui e ali. Entre os muitos rostos<br />

presentes, - dos quais não sei e talvez nunca venha saber os nomes correspondentes -<br />

vários deles eu já havia podido registrar em um ou outro evento, muitos deles em<br />

corredores e pátios universitários.<br />

Também merece registro que, quando essa zona autônoma temporária não é<br />

configurada, as estratégias de redução de riscos adquirem contornos mais ousados. Num<br />

show do Cordel do Fogo Encantado, um casal de estudantes que estava de posse de<br />

cocaína não quis correr o risco de ser flagrado consumindo no banheiro. Então foi<br />

resolvido que a melhor maneira seria diluir o pó em água destilada e com um pequeno<br />

conta-gotas administrar a substância no nariz como se fosse algum medicamento<br />

descongestionante...<br />

Participando e observando estes settings de consumo abertos – barzinho, rave,<br />

casamento e shows de rock - pude registrar os controles elaborados pelas comunidades<br />

de usuários. Sendo estes settings zonas autônomas temporárias ou não, a maioria dos<br />

usuários se colocou não mais como pessoas que devem se esconder por receio de serem<br />

representadas como desviantes, mas como pessoas que são parte de comunidades com<br />

características específicas, seja usando um descongestionante nasal tranquilamente em<br />

meio a massa de estranhos como um portador de uma prescrição médica o faria sem<br />

receio de chamar a atenção ou seja fumando em meio à multidão como meros<br />

149 - a zona autônoma temporária remete a configurações efêmeras onde por um período curto de tempo se<br />

estabelecem regras e controles que só dizem respeito para os que se encontram nos limites internos da<br />

zona. Não é um cancelamento dos valores dominantes, mas sua suspensão ou pelo menos sua<br />

relativização. A idéia central de Bey é combater as relações de poder em sua forma dominante,<br />

configurando espaços de liberdade que surjam e desapareçam.<br />

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