o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho
o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho
o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
112 diAcríticA<br />
ofício que é pura consagração <strong>do</strong> amor enquanto fusão órfica entre o<br />
Homem e a Mulher, no to<strong>do</strong> indistinto <strong>de</strong> um cenário mítico:<br />
Toco o peso da tua vida: a carne que fulge, o sorriso,<br />
a inspiração.<br />
e eu sei que cercastes o pensamento com mesa e harpa.<br />
Vou para ti com a beleza oculta,<br />
O corpo ilumina<strong>do</strong> pelas luzes longas.<br />
Digo: eu sou a beleza, seu rosto e seu durar. Teus olhos<br />
transfiguram-se, tuas mãos <strong>de</strong>scobrem<br />
a sombra da minha face. Agarro a tua cabeça<br />
áspera e luminosa, e digo: ouves, meu amor? eu sou<br />
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo –<br />
eu sou a beleza.<br />
Inteira, tua vida o <strong>de</strong>seja. Para mim se erguem<br />
Teus olhos <strong>de</strong> longe. Tu própria me duras em minha velada<br />
beleza.<br />
(Hel<strong>de</strong>r, 1990)<br />
Trata-se <strong>de</strong> um trecho <strong>do</strong> antológico poema o Amor em Visita.<br />
A música, aqui, não está ao fun<strong>do</strong>, e as palavras são entre um eu e<br />
um tu – as duas únicas pessoas implicadas na enunciação. Vê-se o<br />
espaço órfico <strong>do</strong> poema, perdida já a integrida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s corpos, pela<br />
atuação recíproca <strong>do</strong> olhar que tu<strong>do</strong> vê, um <strong>do</strong> outro, dissolven<strong>do</strong><br />
limites. e Shakespeare e Bach nem são chama<strong>do</strong>s para aqui.<br />
bibliografia<br />
Bataille, Georges. o erotismo. Trad. <strong>de</strong> Claudia Fares. São Paulo, ARX, 2004.<br />
Br e t o n, André, apud va s c o n c e l o s, Mário Cesariny <strong>de</strong>. A intervenção surrealista.<br />
Lisboa, Ulisseia, s/d.<br />
BuBer, Martin. <strong>do</strong> diálogo e <strong>do</strong> dialógico. Trad. Marta ekstein <strong>de</strong> S. queirós e Regina<br />
Weinberg. São Paulo, editora Perspectiva, 1982.<br />
Hel<strong>de</strong>r, <strong>Herberto</strong>. os Passos em Volta. Lisboa, Assírio e Alvim, 6.ª ed. 1994.<br />
—— Poesia toda. Lisboa, Assírio e Alvim, 1990.<br />
ru i z, Castor M. M. Bartolomé, «Ética como prática <strong>de</strong> subjetivação: esboço <strong>de</strong> uma<br />
ética e estética da alterida<strong>de</strong>», apud Pe r g e n t i n o, S. Pivatto, ética: crises e<br />
perspectivas. Porto Alegre, eDIPUCRS, 2004.<br />
sHakesPeare, William. Hamlet – the ar<strong>de</strong>n edition of the works of William shakespeare.<br />
edited by Harold Jenkins. Routledge, Lon<strong>do</strong>n and New York, 2.ª ed.,<br />
1994.